09 abril, 2008

Ecumenismo e outro mundo possível ...

Por Elias Wolff

Depois do I e II Fórum Social Mundial, realizados em Porto Alegre em 2002 e 2003, respectivamente, repetimos seguidamente seu lema «um outro mundo é possível». É já um projeto de vida, para todos nós. Afirma que a razão do viver não está apenas no mundo atual, exigindo a transformação deste em vista do futuro. E nos faz peregrinos da e na esperança, certos de que "o futuro acaba sempre acontecendo e é melhor do que qualquer passado".

Quando dizemos «um outro mundo é possível», nos sentimos provocados a buscar «algo mais», «outro» estilo de vida, «outro» projeto, para nós mesmos e para a humanidade. Buscamos «outra coisa» para dar sentido à vida, apesar de nem sempre sabermos o que se busca. O fato é que não nos conformamos com o estado atual das coisas. Tudo pode ser melhor! E questionamos nossas certezas, vemos a fragilidade das nossas posições, damo-nos conta dos desequilíbrios no mundo presente. E cremos: «um outro mundo é possível».

Duas coisas são fundamentais para «um outro mundo possível»: 1) não vale dizer «um outro mundo é possível se meu mundo for possível». Ninguém pode apresentar a si mesmo, seu modo de ser, de ver e fazer as coisas como critério para o outro mundo. Pode, e deve, contribuir com algo de si, mas sem impor-se. 2) «Um outro mundo possível» exige mudanças no meu mundo. Um teste: os amigos são sempre os mesmos? Os ambientes e pessoas frequentadas não mudam nunca? Partilha-se os projetos sempre com as mesmas pessoas, os que concordam com eles? Então, dificilmente haverá «outro» mundo...

Um outro mundo é possível se houver inclusão: de pessoas, de espaços, de sentimentos, de projetos... que «não partem de mim», mas que acolho em mim. «Um outro mundo é possível» pelo respeito às diferenças, por atitudes de tolerância, diálogo e cooperação também (e sobretudo!) com quem discorda de mim. «Um outro mundo é possível» pela busca da comunhão sincera de sentimentos mais do que de idéias, de sonhos e utopias mais do que de verdades, de corações e afetos mais do que de projetos.

E nisso o ideal do ecumenismo tem muito a ensinar. As igrejas e religiões em diálogo apontam para «um outro mundo possível», abrindo as identidades fechadas, abandonando as práticas e os conceitos engessados, alargando os horizontes da comunhão. Um outro mundo é possível pelo diálogo que conduz a novas realidades: unidade sem exclusividade dos únicos, comunhão sem solidão dos mesmos, convívio sem egoísmo entre os iguais. Enfim, só alcançará «um outro mundo» os que mudarem «seu próprio» mundo.

Então podemos alimentar o sonho, a utopia, a esperança, de que as coisas serão melhores. E sonhamos juntos, ousadamente, com o fim da dor, da angústia, da fome, da injustiça, da morte... Sim, um outro mundo é possível, não apenas diferente mas melhor. Uma nova vida é possível, uma nova sociedade é possível, uma nova Igreja é possível. Desde que saibamos percorrer os caminhos do diálogo, da inclusão, da tolerância, da corresponsabilidade, do respeito à diferença... Por esses caminhos seguem as igrejas e religiões que alimentam o sonho da oikoumene possível.
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Elias Wolff é padre Católico e Coordenador do Departamento de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso do Instituto Teológico de Santa Catarina – ITESC.
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