31 março, 2007

Verso e Voz - 31 de março

Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste, porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos. - Mateus 5.43-45

“Grande certamente é o batismo que o é oferecido. É um resgate aos cativos; a remissão das ofensas; a morte do pecado; a regeneração da alma; o vestido da luz; o selo sagrado indissolúvel; a carruagem ao céu; o luxo do paraíso; a obtenção do reino; o dom da adoção”. - Círilio, Bispo de Jerusalém (c. 315-386) , Catechetical Lectures of S. Cyril

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30 março, 2007

Papa saúda caminhada ecumênica com luteranos

CIDADE DO VATICANO, 29 de março (ALC) – O papa Bento XVI saudou a Federação Luterana Mundial (FLM) pelo seu 60. aniversário e enfatizou a importância do trabalho ecumênico católico-luterano realizado até aqui.

Na mensagem enviada pelo presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal Walter Kasper, ao presidente da FLM, bispo Mark S. Hanson, o papa sublinha que desde o final do Concílio Vaticano II (1959-1965) luteranos empreenderam com os católicos um diálogo até hoje muito frutífero, dando importantes passos adiante no caminho para a unidade dos fiéis dessas duas confissões.

A mensagem foi lida no culto solene de comemoração dos 60 anos da FLM, celebrado no domingo, 25 de março, na catedral de Lund, Suécia. Bento XVI assinala que as relações entre luteranos e católicos, aprofundadas graças à oração comum e aos encontros em nível mundial, são “um dom do Espírito Santo e ao mesmo tempo uma obrigação de não se cansar em levar adiante os compromissos ecumênicos”.

A agência católica Zenit informou que a Comissão Católica-Luterana trabalha nas diferenças ainda existentes entre as duas confissões cristãs em questões de fé, na concepção de igreja e quanto aos sacramentos. Há duas semanas, o pontífice sublinhou a impossibilidade de católicos compartilharem a eucaristia com não-católicos.

Em 31 de outubro de 1999, luteranos e católicos assinaram, em Augsburgo, Alemanha, a Declaração Conjunta sobre a Justificação, tema que motivou a cisão da Igreja no Ocidente com a Reforma e que é um dos pilares da teologia protestante.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Trocas simbólicas entre a Universal e a Umbanda

SÃO LEOPOLDO, 29 de março (ALC) – A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) apropriou-se de símbolos da Umbanda, como o descarrego, o sal grosso e a arruda, trouxe-os para dentro do seu culto, alegando que eles foram criados por Deus, mas que através de uma manifestação sombria esses elementos acabaram nas religiões afro-brasileiras.

A constatação é de Antonio Vieira, que apresentou dissertação de mestrado na Universidade de São Paulo (USP), em fevereiro, sob o título “Filho-de-santo ou filho-de-encosto? Conflitos e aproximações nas disputas simbólicas entre Igreja Universal do Reino de Deus e Umbanda”. Ele sustentou, na dissertação, que há trocas simbólicas entre as duas manifestações religiosas.

A Umbanda, explicou Vieira em entrevista ao Instituto Humanitas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), vai tentar trazer de volta os seus símbolos para o terreiro, mas ela não tem uma consolidação institucional nem capacidade de difusão de sua mensagem como a Universal. “Não conheço nenhuma rádio ou TV umbandista”, disse, referindo-se à rede de emissoras vinculadas à IURD.

As religiões, afirmou Vieira para o IHU, precisam se diferenciar, principalmente quando estão ficando muito parecidas. A IURD mostra que talvez seja até muito parecida com a Umbanda, mas existe uma diferença essencial: a Universal entende que cultua Deus enquanto a Umbanda cultua o demônio.

A Universal acredita que ela é portadora dos bens de salvação e oferece o local mais seguro para a pessoa se afastar da influência do diabo e encontrar a salvação. Mesmo presenciando histórico de preconceito e intolerância na família, pois uma avó sua é mãe-de-santo, Vieira condena conclusões apressadas da mídia em relação à IURD.

“Muitas vezes, a imprensa tem um certo tratamento com relação à Igreja Universal que é um pouco cruel”, afirmou. Ele vê na IURD um sistema religioso bem estruturado, com uma mensagem particular que faz todo o sentido para os seus fiéis, e diz que seus pastores não são um bando de aproveitadores, como muitas vezes se ouve por aí.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Verso e Voz - 30 de março

Os perversos são inimigos da luz, não conhecem os seus caminhos, nem permanecem nas suas veredas. De madrugada se levanta o homicida, mata ao pobre e ao necessitado, e de noite se torna ladrão. - Jó 24.13-14

“Ser um seguidor ou seguidora de Jesus significa em primeiro lugar entrar pela compaixão na sua experiência, com tudo que expressa o divino e o humano. E quer dizer em segundo lugar entrar com ele no sofrimento e na esperança de todas as pessoas humanas, fazendo a causa comum com elas como ele faz, e procurando como ele faz os lugares de sua predileção entre os pobres e menosprezados e oprimidos”. - Monika K. Hellwig, Jesus: The Compassion of God

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29 março, 2007

Verso e Voz - 29 de março

Tu, SENHOR, conservarás em perfeita paz aquele cujo propósito é firme; porque ele confia em ti. Confiai no SENHOR perpetuamente, porque o SENHOR Deus é uma rocha eterna; porque ele abate os que habitam no alto, na cidade elevada; abate-a, humilha-a até à terra e até ao pó. O pé a pisará; os pés dos aflitos, e os passos dos pobres. - Isaías 26.3-6

“A água vem de sua própria fonte que é Deus. E desde que Deus deseja fazer assim ... Deus produz este prazer com a maior paz e silêncio e doçura em nosso interior mais profundo. Eu não sei de onde ou como, nem como essa felicidade e deleite são experimentados, como são as consolações terrenas, no coração. Quero dizer que não há nenhuma semelhança no começo, porque depois o prazer enche tudo; essa água transborda através de todos os lugares e faculdades da moradia até alcançar o corpo. ... Começa em Deus e em nossas extremidades”. - Santa Teresa de Ávila, Interior Castle

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28 março, 2007

Católicos e protestantes empreendem esforços para construir a paz

IRLANDA
Por Cloé Chapeau

BELFAST, 27 de março (ALC) - Mais de 80 anos de história e conflitos fecharam um capítulo de violência e dor, quando ontem, pela primeira vez na história, o ancião líder protestante Ian Paisley reuniu-se com o líder católico do “Sinn Fein”, Gerry Adams. Do encontro surgiu um pacto de paz e reconciliação que os levará a governar juntos o país a partir do dia 8 de maio.

O novo capítulo, que se espera ponha fim ao conflito entre católicos e protestantes que matou mais de 3 mil pessoas em 30 anos de conflito, começou a ser elaborado em outubro de 2006, quando os governos britânico e irlandês apresentaram um plano para restaurar o autogoverno, batizado como acordo de Saint Andrews, e que fixou o dia 26 de março de 2007 como data limite. Aceitado pelos partidos do Ulster, o acordo exigia que o Sinn Fein aceitasse a autoridade da polícia (PSNI) e da Justiça da Irlanda do Norte - o que fez no dia 28 de janeiro- e o Partido Democrático Unionista (DUP) a candidatura de MacGuinness (líder do Sinn Fein).

Quando no dia 7 de março a Irlanda do Norte foi às urnas para eleger a composição da futura Assembléia autônoma sem a sombra das armas do IRA, o avanço foi considerado muito importante.

O DUP, do reverendo Ian Paisley, venceu as eleições autonômicas do Ulster, ao conseguir 36 das 108 cadeiras que compõem a Assembléia legislativa e 30,1% dos votos. O Sinn Fein, de Gerry Adams, ficou em segundo lugar, ao obter 28 cadeiras.

Na entrevista coletiva que concederam ontem, os dois líderes sentaram-se juntos mas evitaram olhar-se e saudar-se. O reverendo presbiteriano de 80 anos, inimigo incondicional do catolicismo durante décadas, qualificou o pacto como uma "enorme ocasião" para a paz. Ainda assim, não encontrará facilidades no convencimento de setores muito conservadores de seu partido quanto a pontos práticos do acordo. O fato de ter pedido um tempo mais para a implementação do acordo dá lugar a especulações.

Adams, que é reconhecido como um grande estrategista, disse que o acordo conseguido “marca o princípio de uma nova etapa política” para a Irlanda do Norte. O líder católico concedeu as duas semanas que Paisley pediu para dar início de fato ao pacto, quando sua linha política esperava que o pacto começasse ontem mesmo. Adams é considerado um histórico membro do ex-Exército Republicano Irlandês (IRA), ainda que ele negue a participação em vários comentários e notas. Vale a pena ler sua autobiografia intitulada "Antes do amanhecer".

O acordo repercutiu em toda a Europa, já que Paisley é qualificado como um "duro", um homem intransigente quando se trata de separar por religiões o mundo onde vive. Ele é chamado de Doutor Não pela mídia do continente. O Diário EL País, da Espanha, relatou assim o histórico encontro:

- O homem que em 1959 animava habitantes do enclave protestante de Shankill a expulsar de ali aos católicos; o homem que em 1962 abandonou a Ordem de Orange porque esta decidiu não expulsar um membro por ter assistido a uma missa católica; o homem que em 1964 provocou dois dias de distúrbios em Belfast ao exigir da polícia que retirasse a bandeira irlandesa da sede do Sinn Fein; o homem que em 1971 fundou o Partido Democrático Unionista (DUP) porque o partido unionista dominante não lhe parecia bastante radical; o homem que foi expulso do Parlamento Europeu em 1988 por chamar o papa João Paulo II de "anticristo"; o homem que em 1998 renegou os Acordos das Sextas-Feiras Santas e que chamou a rainha Elisabeth II de “papagaio de Tony Blair” por engrandecê-lo em público; o homem que tantas vezes disse que "nunca, nunca, nunca" pactuaria com os republicanos; o homem conhecido como Doutor Não, ontem disse sim.

O premiê britânico, Tony Blair, assegurou, ao inteirar-se do acordo, que era "um dia muito importante para o povo da Irlanda do Norte, bem como para o povo e a história dessas ilhas". O governo britânico confirmou na semana anterior que destinará 53.000 milhões de euros adicionais ao gasto público na Irlanda do Norte.

Nascido em 6 de abril de 1926, em Armagh, o reverendo Ian Richard Kyle Paisley foi ordenado pastor aos 20 anos, depois de realizar estudos de Teologia no South Wales Bible College. Moderador da Igreja Livre Presbiteriana do Ulster, da qual é fundador, Paisley é qualificado como um conservador irredutível.

Seus defensores crêem que a aceitação do acordo é parte de uma espécie de “conversão” do líder ancião, que vê a necessidade da paz depois de tantos anos de lutas. Seus detratores duvidam e simplesmente dizem que ele está chegando ao final da vida e não quer deixa-la sem ter sido governo na Irlanda.


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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Verso e Voz - 28 de março

Buscai o bem e não o mal, para que vivais; e, assim, o SENHOR, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis. Aborrecei o mal, e amai o bem, e estabelecei na porta o juízo; talvez o SENHOR, o Deus dos Exércitos, se compadeça do restante de José. - Amós 5.14-15

“Para mostrar grande amor por Deus e por nosso próximo e próxima não precisamos fazer grandes coisas. É a quantidade de amor que colocamos no fazer que faz nossa oferta algo bonito para Deus”. - Mother Teresa, A Gift for God

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27 março, 2007

Carta de Cléber de Oliveira Paradela

Salvador, 19 de março de 2007

O último fim de semana foi muito rico para a nossa comunidade metodista. No sábado, dia 17/03, os casais foram brindados com uma excelente palestra proferida pelo Rev Bruno Almeida, da Igreja Episcopal Anglicana, com o tema “Relações Sexuais na Perspectiva de Martinho Lutero”. Foi com perplexidade que a maioria dos presentes conheceu a forma aberta a corajosa com que o nosso grande líder abordou tal tema, em um momento não propício para tanto.

No domingo recebemos a visita de 25 integrantes da Igreja da Trindade, que celebraram o culto matutino, dirigiram uma classe única de Escola Dominical e participaram de um almoço com a nossa comunidade.

A Igreja da Trindade acolhe hoje 35 pessoas, em um templo católico em ruínas, na parte baixa da Cidade de Salvador, sendo todos ex-moradores de rua, hoje recuperados, que auxiliam na recuperação de outros necessitados, na sua maioria dependentes químicos.

Através do amor e do trabalho com artesanato, ou recolhendo papéis e materiais inservíveis pela cidade, centenas de necessitados já foram recuperados ao longo desses anos.

Eles são liderados pelo Frei Henrique “Peregrino da Trindade”, um monge católico formado em Filosofia e Teologia, que há 18 anos reside no Brasil, dedicando-se a esse trabalho. Sua missão começou em 1989 quando resolveu morar nas ruas para poder conhecer de perto o drama das pessoas que conviviam com aquela situação. Até então, a sua contribuição era a de levar alimentos, cobertores, roupas e conforto aos desabrigados através de orações.

No depoimento do Frei Henrique, “...nas ruas as pessoas deitam-se sobre os papelões e cobrem-se com o medo”.

Por esse belíssimo trabalho, ele foi agraciado com o Prêmio Jaime Wright de Promotores da Paz e Direitos Humanos – 2006, oferecido pela Fundação 2 de Julho. Quando fomos comunicá-lo de que havia sido agraciado com o Prêmio, fizemos com ele uma entrevista, para a produção de material para a imprensa local. Com a sua meiguice e bondade, ouvindo o seu testemunho de vida, tendo como cenário o cair de tarde, no interior de um templo construído no séc. XVIII, saímos daquele local com o sentimento de que havíamos entrevistado o próprio Jesus.

No depoimento de um dos presentes ao encontro; “ ... a partir de agora a gente vai olhar aqueles que dormem e sujam as nossa calçadas com olhos diferentes”.

Essa foi a 4ª vez que a Igreja da Trindade esteve presente na Igreja Metodista em Boca do Rio.

Cléber de Oliveira Paradela
Salvador - Bahia

Sem paz entre as religiões não haverá paz no mundo, diz Hans Küng

Por William Delgado Gil

COLÔMBIA, BOGOTÁ, 27 de março (GospelNoticias/ALC) - Não haverá paz no mundo, se não houver paz entre as religiões, sustentou o professor Hans Küng, na Semana da Ética e a Paz Mundial, encerrada no sábado, 24, nesta capital. O teólogo de origem suíça defendeu a aceitação comum de uma ética mínima, que não supõe a dissolução da ética cristã, que é uma ética de máximas.

O palestrante explicou que uma ética de máximas, como a cristã, num dado momento pode representar uma força de dissensão no coletivo plural de uma ética civil. A aceitação supõe a tolerância de determinadas questões que podem ser consideradas pelos cristãos como um mal, mas ela não deve significar a hesitação das máximas, nem a impossibilidade de prosseguir o diálogo.

Küng assinalou também que um cristão pode aceitar uma ética civil de mínimas, sem renunciar, no diálogo, de propor seus próprios ideais, às vezes sob a forma de uma leal dissensão.

Aqueles que fizeram a sociedade avançar foram pessoas que romperam os consensos sociais. Os profetas traspassaram os consensos, confrontando-os com o status quo. Confronto que, com freqüência, acabou com a eliminação do profeta. As idéias dos profetas autênticos perduram e se impõem. As gerações posteriores recuperam a figura do profeta, mitificando-o ou canonizando-o.

São precisamente os profetas que fazem avançar o processo dialógico, porque jamais se detém. Se ninguém tivesse quebrado o consenso, por exemplo, ainda hoje a escravidão estaria em voga.

Jesus de Nazaré rompeu o consenso religioso através do depoimento, do serviço e da debilidade, e não a partir da força e do poder. Seu exemplo foi seguido por muitos profetas, que optaram pela denúncia das injustiças a partir do serviço e da não-violência: “O filho do homem veio para servir, não para ser servido” (Marcos 10, 45), mencionou o teólogo católico.

A dissensão, adicionou Küng, deve expressar-se na tolerância e no testemunho. A maneira de fazer compreender aos demais os valores de determinadas práticas ou maneiras de fazer próprias dos cristãos deverá priorizar sempre o testemunho. O amor que Jesus pede para com o próximo supõe que a pessoa deve encarnar de maneira coerente, em sua própria vida, os valores que defende. Só assim serão vistos e apreciados como valores, e não como imposições.

O diálogo, o exemplo e o serviço são as formas mais adequadas de expressar o amor ao próximo no mundo. Assim, uma comunidade como a cristã, que não aceita o aborto, deveria mostrar de modo claro de que maneira dá valor à vida humana desde o momento da concepção: acolhendo e ajudando mães sem recursos, mães solteiras, e ajudando no planejamento familiar.

“Na atualidade, crentes das diversas religiões não podem seguir procurando dar respostas às urgências éticas a partir dos critérios e princípios aparentemente inquestionáveis, fixados de antemão, como se tivessem validade situada além da história. Inclusive dentro das diversas posturas cristãs também não resulta compreensível procurar soluções eternas a partir da teologia moral, valendo-se de deduções feitas a partir de uma natureza ou essência humana universal e imutável", disse Küng.

As religiões, enfatizou o professor, podem proporcionar um horizonte global e um sentido último da vida frente às experiências concretas que radicalizam a pergunta pelo sentido (a dor, a injustiça, a culpa, a morte) – o de onde vem e para onde vai a humanidade.

Além disso, elas podem garantir valores e princípios supremos, como a responsabilidade, a convivência harmônica e esperançosa no lar. Uma comunidade e um lar espiritual podem impulsionar o protesto e a resistência contra a injustiça. O anseio atuante do “totalmente outro”.

No entanto, adicionou Küng, é preciso distinguir a autêntica experiência religiosa da pseudoreligião, que coloca no absoluto algo relativo: a ciência, a tecnologia, o dinheiro, o sistema de mercado ou o poder no atual contexto de crítica à modernidade. Não se trata de voltar a tornar absoluto algo relativo, senão de renovar a experiência da fé no único e verdadeiro Deus.

As grandes religiões estão em condições de mobilizar pessoas em favor de uma ética planetária: definindo objetivos morais, apresentando diretrizes e critérios de ação, motivando racional e emocionalmente os seres humanos, para que as normas morais possam ser vividas na prática.

Trata-se, concretamente, de fomentar a paz e a reconciliação entre os povos, de apoiar as exigências da justiça social e do cuidado com o meio ambiente. Isso é possível porque toda religião verdadeira fomenta a verdadeira humanidade e, em definitivo, procura que os homens se comportem de maneira autenticamente humana com o seu próximo.

As religiões oferecem um imperativo categórico definitivo e incondicional suscetível de ser levado à prática, ainda que em situações sumamente complexas. Trata-se da regra de ouro, que diz, negativamente: “Não faça aos outros o que não queres que façam a ti”. Ou, positivamente: “Faça aos outros o que queres para ti”.

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Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação

Verso e Voz - 27 de março

Porque foste a fortaleza do pobre e a fortaleza do necessitado na sua angústia; refúgio contra a tempestade e sombra contra o calor. - Isaías 25.4

“Plenitude para nós, como pessoas de Deus,
está em se mover à unidade com Deus,
independentemente da condição de nossos corpos,
nossas vidas,
nossas mentes.

Todos e todas, igualmente, têm uma capacidade para essa plenitude.
Plenitude é um dom de Deus”. - Beth A. Richardson, “Alive Now!”, março/abril de 1992

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26 março, 2007

Mundo - Cristianismo de libertação (VIII): o fundamento das nossas lutas

Por Jung Mo Sung *

Adital - Todos grandes movimentos sociais ou políticos atuam em nome de certos valores e promessas. A sociedade capitalista-liberal moderna ocidental surgiu, contra a sociedade medieval, com a promessa de acabar com três tipos de mortes: a) a morte causada pela fome, com a promessa de crescimento ilimitado da produção econômica; b) a morte causada pela doença, com a promessa do avanço sem limites das ciências biomédicas; c) e a causada pela violência, com a implantação da civilização baseada na lei e na democracia. É em nome destas promessas que os países ocidentais capitalistas expandiram o capitalismo pelo mundo, primeiro através da colonização da América, da África, Oceania e da Ásia, e depois através da imposição do mercado global. A fé no mercado é a grande propulsora deste movimento, que transformou o mundo, criou novas elites que se beneficiaram do processo e causou também sofrimentos e opressões pelo mundo afora.

Os movimentos marxista-socialistas dos séculos XIX e XX lutaram em nome da "lei da história", que inexoravelmente levaria a humanidade do capitalismo para o socialismo e depois ao comunismo, entendido como o Reino da Liberdade, uma sociedade sem as opressões do homem sobre o homem e da natureza sobre o homem. Na medida em que se entendia que a "revolução" era inevitável por causa das contradições internas do capitalismo e das "leis da história", estes movimentos se viam como a "vanguarda" que iriam apressar o desdobrar das "etapas" já pré-estabelecidas da história. A derrocada do bloco socialista e o retorno da Alemanha comunista ao capitalismo quebraram ou abalaram profundamente esta fé na "lei da história" e no marxismo como "a ciência da história". Esta fé que era a fonte da energia e força deste movimento.

Diante do atual mundo sob hegemonia econômica e cultural do capitalismo global, setores mais conservadores do cristianismo e, em particular, da Igreja Católica propõem novos caminhos para superar esta sociedade considerada demasiadamente hedonista, individualista e materialista. O eixo central da proposta do Vaticano consiste em defender a doutrina tradicional (não tão tradicional, porque só tem algumas centenas de anos; enquanto que o cristianismo tem dois mil anos) da Igreja Católica como a solução para os graves problemas do mundo. Por isso, a sua insistência na ortodoxia, no rigor das leis morais e disciplinares da Igreja e na sacralidade da Igreja Católica.

Os neoliberais fazem da fé no mercado o fundamento das suas ações e políticas e a fonte de justificativa para todos os tipos de sacrifícios impostos sobre os mais pobres e sobre o meio ambiente. Os marxistas "ortodoxos" faziam da fé nas "leis da história" a razão e a fonte de legitimidade para suas lutas e também para opressões e exigência de sacrifícios no bloco socialista. E os setores mais influentes do Vaticano fazem da fé na doutrina e na lei da Igreja Católica o fundamento e a fonte de legitimidade para suas ações e políticas no interior da igreja e também das propostas para o mundo.

No interior do cristianismo de libertação, podemos encontrar dois tipos de fundamento. O primeiro é a certeza de que Deus nos chama a construirmos o Reino de Deus e que o poder de Deus, que está ao lado dos pobres, seria a garantia que os pobres darão conta desta construção. Para alguns teólogos, afirmar que os pobres e as vítimas das opressões se libertarão e construirão o R.D. no interior da história é afirmar que Jesus não morreu em vão e que Deus não fracassou na sua criação. Isto é, se não conseguirmos construir o R.D. em plenitude no interior da história, isto significaria dizer que Deus fracassou com a sua criação. Mas, como isto não é admissível, a construção do RD e a libertação plena dos pobres estariam garantidas.

Por mais que surjam reflexões teológicas no interior do cristianismo da libertação que mostram a necessidade de revisarmos esta posição, por mais que os acontecimentos da vida e os últimos dois mil anos de história questionem, este grupo sente a necessidade de reafirmar estas doutrinas incansavelmente - algumas vezes usando novas linguagens ou metáforas para dizer o mesmo-, pois o fundamento, o sentido e a fonte de energia para suas lutas se encontram na certeza deste discurso teológico.

Um outro grupo encontra o fundamento da sua luta, não na teologia, mas na experiência de encontrar no rosto do pobre a presença de Cristo e ouvir no clamor dos pobres a revelação/juízo de Deus sobre o pecado do mundo. Clamor este que nos interpela a lutarmos por um mundo mais humano, a passarmos do mero conhecimento, consciência, para coragem e ação. A teologia da libertação, nas suas mais variadas formas, veio depois desta experiência-práxis, como um serviço à compreensão desta experiência espiritual e à luta dos pobres e das vítimas das opressões. Para este grupo, o fundamento do cristianismo de libertação, a fonte da força e do sentido, está nesta experiência espiritual, mesmo que as vitórias não sejam como desejamos, mesmo que não tenhamos a certeza da vitória final e plena.

É um cristianismo que desconfia das certezas teológico-sociais (seja do neoliberalismo, do marxismo, do Vaticano ou até mesmo do cristianismo da libertação), pois certezas sobre seres humanos, a história e Deus indicam que estamos diante do fenômeno da idolatria. Certezas nos propiciam falsas seguranças e nos levam a erros trágicos. Por isso, o cristianismo sempre ensinou que o fundamental é a fé, apostar a nossa vida, no Deus que permanece entre nós e realiza o seu Amor nas nossas lutas com e em favor dos pobres e das pessoas que sofrem (cf 1Jo 4,12).

Lutamos porque os rostos das pessoas que sofrem injustiças nos interpelam, porque sentimos dentro de nós mesmos uma força que nos impele, porque a luta nos torna mais humanos, porque sorrisos e olhos das pessoas com que caminhamos juntos nestas lutas dão sentido às nossas vidas e as enchem de graça e, com tudo isso, nos permite viver a "plenitude possível" do Reino de Deus, da presença do Amor de Deus, nas nossas vidas e na nossa história.

(Este é o oitavo artigo de uma série que estou escrevendo sobre o tema do "cristianismo de libertação" como uma contribuição para os debates em vista da V Conferência do CELAM)

* Professor de pós-grad. em Ciências da Religião da Univ. Metodista de S. Paulo e autor de Sementes de esperança: a fé em um mundo em crise

Leia também:

Cristianismo de Libertação (VII): uma tarefa para teologia
Cristianismo de Libertação (VI): o papa e a família
Cristianismo de libertação (V): fidelidade e diálogo
Cristianismo de Libertação (IV): os três níveis do discurso teológico-social
Cristianismo de Libertação (III): duas frentes de luta
Cristianismo de Libertação (II): os pobres e a liberdade-libertação
Cristianismo de libertação (I)

Verso e Voz - 26 de março

Pese-me Deus em balanças fiéis e conhecerá a minha integridade. - Jó 31.6

“Não sei a chave do sucesso, mas a chave do fracasso está em tentar a agradecer a todos”. - Bill Cosby

25 março, 2007

Verso e Voz - 25 de março

Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta? Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho. Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. - Isaías 58.3-4

“Quando teremos a coragem para superar a mentalidade da esmola e ver que na profundidade de todas as relações entre ricos e pobres há um problema de justiça”? - Dom Helder Camara

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