05 agosto, 2006

Meditação Diária - 6 de Agosto

Filipenses 2:6-11

Após realizar sua obra de salvação, Cristo é exaltado à glória de Deus Pai...

A humanidade é elevada com ele à vida de Deus. Por sua ressurreição e ascensão, Cristo exerce seu senhorio sobre todas as coisas com Deus Pai e com o Espírito Santo. O credo expressa essa realidade a partir da imagem de Cristo sentado “à direita do Pai” (Mc 16:19). O reinado de Cristo sobre todos os poderes do mundo (cf. 1Pd 3:22) é a base da maravilhosa liberdade dos filhos de Deus. Nós pertencemos a Cristo e cremos que todas as outras potências estão submetidas a ele.

Guiados pelo Espírito Santo, de quem são o templo, os cristãos aguardam a realização definitiva do dom divino: há uma nova vida, que brota da ressurreição de Cristo e que deve se tornar cada vez mais visível e atuante. Faz parte da missão cristã, com a graça que vem do influxo do Espírito, construir no mundo os sinais do Reino que Jesus anunciou. Em relação à fidelidade a essa missão, Cristo será o nosso juiz (cf. Jo 5:26-27). Ele, que veio mostrar a misericórdia, espera que nossa vida seja um sinal do que nos ensinou e prometeu (cf. Jô 4:17).

O Cristo glorificado renova toda a criação e as forças da destruição se autodestruirão. Em meio a nossos sofrimentos e alegrias, continuamos celebrando a vida, a morte e a ressurreição de Cristo pela palavra, pelos sacramentos e pela vida Cristã. A palavra da salvação alimenta a fé no coração dos cristãos e suscita respostas de consentimento, compromisso e anúncio. Os sacramentos fortalecem e exprimem a fé. Por meio deles, é dispensada aos cristãos a graça divina, para que não vivam mais para si mesmos, mas para Deus em Cristo Jesus.

Essa é uma confissão libertadora. O reino de Cristo supõe uma negação de todos os sistemas e ideologias de opressão. Revela que os poderes políticos, econômicos e religiosos deste mundo são provisórios e precisam de renovação e mudança. O reino de Deus propõe a todos os poderes desta época uma visão e uma medida de sua responsabilidade e seu destino final. [...]

Para meditar: O que precisa ocorrer no mundo como sinal do senhorio de Jesus? Isso será obra da graça, mas que participação se espera dos discípulos de Jesus atualmente?

Extraído: Compartilhando a fé comum: Guia de estudos e celebração da fé para grupos de reflexão - 2005 - Conic - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs
Contribuição - Maria e Robert Stephen Newnum - Maringá

Vivemos tempos de intolerância

Por: Laan Mendes de Barros

O conflito entre Israel e o Hizbollah, que se arrastam por semanas sem fim, com ataques violentos e sem medida ao Líbano, vem provocando comoção, indignação e gestos de solidariedade por toda parte. Em vários outros cantos do mundo a intolerância e a ganância de líderes políticos levam dor, sofrimento e morte a milhares de pessoas. Nas grandes cidades a violência do crime organizado e a insegurança marcam o dia-a-dia das famílias. O conflito entre vizinhos, entre colegas de trabalho e mesmo no trânsito torna a vida mais amarga. Vivemos tempos de intolerância.

Aos cristãos cabe orar pela Paz. Mas somente orar não basta; é preciso trabalhar por ela, prezando pela justiça e semeando gestos de solidariedade, e generosidade. Nós cristãos devemos dar o exemplo, como agentes da Paz. Cabe a nós testemunhar o amor, a tolerância, a humildade e a busca constante da fraternidade, “para que o mundo creia” em Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. O amor ao próximo implica no respeito às diferenças de idéias e tradições e na abertura permanente ao diálogo com as pessoas e instituições que partem de outras experiências de fé. Unidos podemos trabalhar juntos pela Paz.

Desde que cheguei de viagem, no final de julho, tenho acompanhado as reações de muitos(as) metodistas em relação à lamentável decisão do Concílio Geral de 2006 sobre o ecumenismo. Por duas semanas fiquei calado (e profundamente abatido), tentando entender o que aconteceu. Para alguém que é filho de pastor, que é metodista de quarta geração e aprendeu o que é ser metodista nos bancos da escola dominical não dá para aceitar o que foi decidido. O que teria levado aqueles irmãos e irmãs a tal gesto de intolerância e falta de solidariedade cristã? Quem está liderando esse movimento sectário? O que motivou essa ação inconseqüente, de energia tão destrutiva e de orientação, a meu ver, tão distante das tradições e identidade metodista? Como sustentar teologicamente uma posição que coloca o ser humano como juiz capaz de julgar que uma experiência de fé é melhor do que a outra? Só a Deus cabe julgar...

São várias as manifestações que encontram neste blog o espaço ecumênico para lamentar, refletir e buscar forças para vencer uma etapa sombria da caminhada metodista no Brasil. Ao ler tantas palavras de reafirmação de identidade, encontro forças para superar o choque dos primeiros dias e acreditar que nem tudo está perdido. Ainda entristecido e sem respostas às minhas indagações, procuro participar do debate, junto-me às pessoas que apelam ao bom senso dos líderes do Metodismo em nosso país na busca de uma revisão da decisão tomada em julho. Abandonar o ecumenismo é negar nossas origens e trajetória, é semear discórdia e intolerância, é submeter nossa denominação à concorrência do mercado religioso que, infelizmente, marca o nosso tempo. Caso contrário, será difícil ser metodista no Brasil.

Espero poder seguir sendo metodista e, conseqüentemente, ecumênico. Assim como eu aprendi de meu pai e minha mãe e daqueles que me antecederam, espero que meus filhos possam ensinar aos seus descendentes que ser metodista implica em amar ao próximo e construir sinais do Reino de Deus juntamente com outras pessoas que crêem em Jesus como Senhor e Salvador. Paz!

Laan Mendes de Barros
Leigo, membro da Igreja Metodista em Vila Mariana (São Paulo-SP)
Vice-presidente do Conselho Diretor do IPA-IMEC-UNIÃO

A Igreja Metodista continuará a ser ecumênica

Por: Dorothy Schatzman Santee

Sou Metodista de coração e credo por mais de 70 anos. Ao saber da votação do 18º Concílio Geral da Igreja Metodista no Brasil, retirando-a das organizações ecumênicas, fiquei muito triste e também ofendida.

As pessoas que votaram isso, na realidade votaram em retirar a Igreja Metodista no Brasil do próprio "Metodismo", além de demonstrar ignorância quanto à posição histórica do Metodismo, que tem entre sua crenças a tolerância e a atividade ecumênica, desde a época de João Wesley, o fundador, até os dias de hoje.

A Igreja Metodista continuará a ser ecumênica, eu continuarei a ser ecumênica e nenhuma votação política mudará isto (se é que tal votação seja legal).

Espero que o Concílio Geral em sua continuação, em Outubro, se reposicione.

Que Deus nos guie!

Dorothy Schatzman Santee
Missionária aposentada da General Board of Global Ministries (GBGM)
Caldas Novas - GO

04 agosto, 2006

¿Dónde vas ecumenismo?

Fonte: Boletín enREDando (http://www.enredando.org.ar/noticias_desarrollo.shtml?x=29089)

Publicado el: 16/05/2006
Fuente: Prensa Ecuménica
Por Metodista. Categorías: Ecumenismo / Noticia

El teólogo Santana analiza las diversas características del Ecumenismo en la actualidad. También los diversos conflictos entre religiones cristianas y el aspecto numérico del cristianismo hoy.

El rumbo que tomará el ecumenismo fue la clave de la conversación que Metodista (*) mantuvo con el Dr. Julio de Santana, quien, radicado en Ginebra estuvo en su Uruguay natal durante el mes de marzo de 2006. Nacido en el Cerro, Montevideo, formado en las filas.

Iglesia Metodista en el Uruguay (IMU), participó activamente en la vida del Consejo Mundial de Iglesias (CMI) desde la década del 60, en la que fue una de las figuras prominentes conjuntamente con otros uruguayos, como los pastores Emilio Castro, quien fue Secretario General del CMI, y Oscar Bolioli, actualmente Presidente de la IMU.

El futuro del ecumenismo es constante preocupación de las iglesias cristianas y constituyó una de las instancias direccionales de la IX Asamblea del CMI efectuada en Porto Alegre, desde el 14 al 23 de febrero de este año.

Institucionalización del ecumenismo

Julio de Santana señala tres hechos en la conformación del ecumenismo. El del "movimiento misionero" que tuvo como protagonistas a las iglesias de línea protestantes, en las primeras décadas del siglo pasado. Posteriormente el "movimiento ecuménico en sí", con la influencia de la Federación Mundial de Estudiantes Cristianos y la juventud que culminó con la formación del CMI en 1948.

En tercer lugar, el Concilio Vaticano II en la década del 60, a partir del cual la Iglesia Católica Romana (ICR) "se abre hacia el Movimiento Ecuménico y que, sin integrar formalmente en el CMI participa en él especialmente en la comisión de Fe y Orden que considera los asuntos doctrinales y de fe", iniciativa avalada por la aprobación delDocumento sobre Ecumenismo y la apertura de un departamento para ocuparse de esa tarea, oficializado a fines de 1964 por el Vaticano.

Entre el 60 y 70, indica el entrevistado, el CMI realiza dos de sus más importantes Asambleas, la tercera y cuarta, Upsala y Nueva Delhi, en las cuales las Iglesias Ortodoxas cumplimentan las tramitaciones para integrarse en el CMI. "Este es un momento de transformación del ecumenismo porque no es lo mismo que haya personas que tienen la preocupación por la unidad de los cristianos a que sean las iglesias mismas que se comprometan a ese proceso" explica Santana agregando que "aquí comienza la institucionalización del movimiento ecuménico". Para el pensador uruguayo "la institucionalización de un movimiento es un hecho natural e irreversible", pero donde "las organizaciones más sólidas, las que tiene más fuerza social, más peso histórico, pasan a dominar de manera clara o implícita el movimiento" por lo que "a partir del 70, poco a poco, el CMI toma como referencia a la ICR" lo que produce un cambio muy importante en ese organismo.Requerido sobre el significado de ese paso, de Santana explica que "el movimiento ecuménico surgió desde las comunidades del protestantismo clásico, moderno, con características propias del protestantismo como que el lugar central es la Palabra de Dios y su actualización en la vida de la sociedad, la Biblia en una mano y el periódico en la otra fue una consigna apreciada en la que la Biblia era el principal referen"Las diferencias son obvias. Cuando la ICR se adhiere al movimiento ecuménico aparece otro elemento, el de la tradición que, como se sabe,debe ser interpretada por el magisterio" aspectos que no estabanpresentes en el protestantismo "pero que se afirman fuertemente durante los últimos veinte a veinticinco años" dando así una clavefundamental en la interpretación de los cambios que se producen en el CMI.De Santana avanza en su reflexión comentando que "la incorporación delas Iglesias Ortodoxas refuerzan esa tendencia. Ellas le dan especial importancia a la tradición, a diferencia del protestantismo que genera la visión hacia el futuro mucho más que al pasado, a los ortodoxos y católicos romanos les preocupa la mirada hacia el pasado, mantener la tradición, sin la cual no se comprenden como Iglesias" y que si bien en Vaticano II comenzó a producirse la transformación de esa visión, lasfuerzas por la tradición volvieron a posicionarse en el seno de la ICR.Transición histórica.

Al llegar a este punto Santana introduce el término "transición histórica" refiriéndose "esa situación de cambio que no se sabe hacia donde vamos, donde las cosas son muy distintas a como las habíamos vivido y el futuro aparece incierto" por lo que "mucha gente busca una base segura, en vez de ir hacia adelanta retorne al pasado, que es una de las causas de la elección de Benedicto XVI como Papa, quien da laseguridad de afirmarse en la tradición". Al interrogante de si en el protestantismo esa tendencia no es un acto "contra natura", Santana responde por la afirmativa pues "el protestantismo mira hacia delante, si el protestantismo quiere mantener su origen debe acompañar los procesos de transformación en los que hay que respetar los Derechos Humanos, la separación de la Iglesia y el Estado, tener en cuenta las diferencias sociales pues mientras lassociedades del pasado eran muy homogéneas, las presentes son heterogéneas" y este acompañamiento debe hacerse en el marco del Estado de Derecho "que resulta de tensiones de sectores que ayudan a ampliar el derecho de cada persona aceptando la diferenciación y legitimando la convivencia en medio de las diferencias".

A esta altura de la conversación, el entrevistado afirma estar convencido que "lo mas importante es entender que tipo de transición histórica estamos viviendo" arriesgando a opinar que "en el plano de la vida religiosa surge el hecho de que la experiencia religiosa se estructura a partir de la experiencia de los individuos y no de la comunidad" explicando que "antes, cuando teníamos que decidir como vivir las indicaciones venían desde la comunidad a la que pertenecíamos, pero actualmente cada uno decide como y en que cree, no responde tanto a las pautas de la institución sino a su decisión personal". Si actualmente las iglesias institución proponen estilos de vida caso de la ética sexual y social, sus fieles se atreven a no aceptar esas pautas. "Hoy esos y esas fieles no se sienten culpables de hacerlo y siguen en las iglesias, mientras que antes se sentían en falta y eran separados de ellas". Esa realidad produce el fenómeno de que en una misma comunidad "Hay quienes le dan mucha importancia a la ética social, otras a la ambiental, están las que favorecen las Plantas de Celulosas por razones sociales, que van a traer trabajo, mientras que otras se oponen por razones ambientales. Antes, de alguna manera, las iglesias teníansus pronunciamientos oficiales, ahora pueden hacerlo pero no tiene la misma importancia que en otros tiempos para la práctica religiosa de las personas, cada una decide por sí misma".

Estado y Economía de Mercado

Al comparar las iglesias con los partidos políticos y otros organismos, también debilitados como institución, se plantea el interrogante si las instituciones habrán de desaparecer. Santana responde que "Ese es un proceso general a lo que también se incluye la institución familia, pero que hay dos instituciones que aparecen cada vez mas fuertes, una es el Estado, la otra el Mercado, lo que se llama Economía de Mercado".

Aclara el teólogo uruguayo que "El Mercado, la Economía de Mercado, existe como institución, la Bolsa de Valores lo ejemplifica, es cierto que como tal no es visible como el Estado, pero que sea invisible como institución no es argumento para que no exista" y es el Mercado que transforma al "ciudadano y ciudadana" en "consumidores" e introduce nuevos estilos de vida y cambia el panorama internacional instaurando la globalización.

Ante este panorama ¿cuales serian las posibles propuestas para el ecumenismo? "Todo depende como entendamos el movimiento ecuménico, que no se condensa solo en el CMI o en el Vaticano" sostiene Santana quien afirma estar convencido, "con fundamentos", de "que el ecumenismo necesita básicamente el reconocimiento del otro, tenemos que vivir un ecumenismo entre Babel y Pentecostés.

Babel es ese relato bíblico que cuenta el intento de seres humanos que quisieron implantar una sola manera de pensar, el pensamiento único, a lo que Dios dijo que era una barbaridad, terminó con la torre, esparció a los pueblos que se la tuvieron quearreglar por sí mismo afrontando el problema de la comunicación.

El relato de Pentecostés es donde la comunicación se resuelve por el accionar del Espíritu que permite que alguien que habla en un lenguaje determinado sea comprendido por gente que no lo habla" así las instituciones eclesiásticas que "frente a la transición histórica se sienten muy inseguras y se refuerzan en el pasado, deben afrontar los riesgos del cambiante futuro".

De Santana analiza el presente donde "El CMI ha institucionalizado el movimiento ecuménico para perdurar en la historia" y ve la existencia de "otras expresiones que quieren mantener el carácter dinámico del movimiento ecuménico, el protestantismo clásico", en las que "el problema de hoy no es la relación con otras religiones, sino conpersonas que tienen otras creencias, especialmente en el momento en el cual esas creencias son manipuladas para legitimar confrontaciones violentas como las de judíos y musulmanes, cristianismo e islamismo, dando lugar a que se hable de choques de civilizaciones que mas que eso son choques de religiones como los musulmanes de Kosovo contra losortodoxos de Serbia, las confesión católica romana de Polonia contra la ortodoxa de Rusia y otras similares que obligan repensar el sentido delecumenismo".

Agrega que "Hoy no podemos ignorar el problema de las tensiones y agresividad creciente entre confesiones religiosas, como es el caso del mundo islámico, hay que buscar como dialogar que significa conocer a la otra persona, son pocos los cristianos que hacen esto, seguimos pensando que somos la iglesia del mundo sin darnos cuenta de que si se mantienen los actuales índices poténciales los musulmanes serán mas que los cristianos al final del 2000".

Santana señala que "la mayoría de las iglesias optaron por defenderse como instituciones, pero los desafíos deben ser enfrentados, reconocer que hay una manipulación clara de los símbolos de la fe, de las realidades religiosas, por parte de los poderes políticos, que a su vez sirven para que algunos grupos religiosos ganen nuevas posiciones sociales con mayor poder en la vida de la sociedad".

"Personalmente - afirma Julio Santana- adhiero a la versión protestante del riesgo, sigo muy de cerca lo que sostenía el teólogo Paul Tillich, sobre el principio protestante, de la salvación por la gracia de Dios, de la justificación por la fe, de la Sola Escritura, como elemento importante para la vida de fe en el mundo, donde no hay nada histórico de valor absoluto, en el que todo es relativo y que, como apunta la carta a los Colosenses, hay que enfrentar los poderes del mundo, colocarlos en su lugar, desenmascararlos y marchar hacia la construcción de un Estado de Derecho" concluyendo que "Es en esta dimensión que debe caminar el movimiento ecuménico".

(*) "Metodista" es la publicación de la Iglesia Metodista en el Uruguay (IMU). De edición bimensual a partir de marzo de cada año, es producida por el Departamento de Comunicaciones de la IMU.

Ai! de nós @s metodistas e ecumênic@s

Fonte: ADITAL - Agência de Informação Frei Tito para a América Latina
(http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=23731)

31.07.06 - BRASIL

Ai! de nós @s metodistas e ecumênic@s

Nancy Cardoso Pereira *

Adital - Não te admires de eu dizer: Necessário vos é nascer de novo. (João 3, 7) Anda difícil ser metodista e ecumênica nesses dias após o Concílio Geral da Igreja Metodista do Brasil (julho 2006) que decidiu pela não participação em organismos ecumênicos como reflexo de um projeto eclesial proselitista, competitivo e guiado pelo mercado de disputa pelos bens simbólicos e seus consumidores.

É um daqueles momentos em que a trajetória pessoal, a espiritualidade e as escolhas de vida são encurraladas e os significados ficam exigindo significado. Eu e outr@s metodistas estamos nos fazendo essas perguntas com mais ou menos auto-crítica.

Uma notícia vinda dos Andes reaviva minha memória e me faz lembrar como é mesmo que cheguei até aqui. Peço a benção para Maria Sumire. Metodista e ecumênica assim.

Maria Sumire é leiga metodista no Peru e foi eleita para o Congresso Nacional. Na hora do juramento, perante todo a assembléia e os meios de comunicação ela re-criou o juramento em quéchua a língua das maiorias indígenas do Cusco e do Peru. Ela foi exortada a fazer o juramento em espanhol. E por três vezes ela respondeu em quechua!! Ela se manteve firme nos costumes indígenas ancestrais, levantou as mãos e invocou os gestos de Túpac-Amaru e Micaela Bastidas, mártires das lutas andinas contras os opressores espanhóis e incas. Lembrou do pai, sindicalista e se afirmou evangélica metodista. Ela foi eleita com o apoio do movimento de mulheres camponesas indígenas de Cusco e outros movimentos da esquerda-popular.

Me encontrei duas vezes com Maria Sumire: uma vez, no Equador num Encontro Americano de Mulheres Metodistas, numa Celebração da Santa Ceia ela tomou os elementos e ofereceu primeiro para a Pachamama. Se abaixou e conversou com a terra. Para espanto de muitas, Maria convive e professa duas tradições sem precisar definir prioridades ou hierarquias.

Da outra vez, numa assembléia do Clai no Chile, numa conversa difícil sobre ecumenismo e macro-ecumenismo eu estava sendo massacrada pela ala conservadora e anti-católica que também assola o Clai. Maria e dois compas me tomaram pelo braço e me levaram num canto. Disseram palavras afetuosas e incompreensíveis e me colocaram o lenço com as cores do arco-íris - WIP’ALA - nos ombros. Ela me disse no ouvido. Agora você também é da religião dos nossos ancestrais.

A bandeira do arco-íris desde então me acompanha e me ajuda a pensar no tipo de pessoa que quero ser. Aprendi que de algum modo a palavra vem do milenário idioma Aruwa e poderia ser entendido assim:

WI = Que pode se mover e se diferenciar.
P’A= Substância divisível.
LA = Continuante, contínuo, plano.

Além das cores todas lado a lado, o nome pede que eu conviva com aquilo que pode se mover, que é divisível mas que tem continuidade, é plano... e se amplia e se move. Assim o ecumenismo: divisível, com suas identidades substantivas todas elas plenas de mobilidade e territorialidades.

Como o arco-iris reunido na bandeira. O arco-íris se deve à forma como a luz do Sol é desviada por gotas de água. O arco, na verdade, é formado pelo desvio e dispersão da luz do Sol em um número enorme de gotas. Só algumas dessas gotas desviam a luz na direção de seus olhos. Outra pessoa a seu lado verá a luz desviada por outras gotas diferentes, isto é, verá outro arco-íris. Cada um vê seu arco-íris particular e cada um está no vértice de seu próprio arco-íris... da mesma luz!

E o WIP’ALA - soberano e glorioso - balança nas mãos de indígenas pelas passeatas e movido pelo vento nas aldeias resistentes. Ecumênicas e metodistas, aprendo com Maria e Casimira a caminhar com as camponesas- trabalhadoras e a nascer de novo de novo.

O Espírito sopra aonde quer.

"O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito". (João 3, 6 a 8)

* Pastora metodista. Agente de pastoral da CPT

Parecer Jurídico

Por: Dino Ari Fernandes

Fonte: Sítio da Igreja Metodista (http://www.metodista.org.br/index.jsp?conteudo=2924)

A decisão do 18º Concílio Geral da Igreja Metodista em Aracruz-ES, de 10 a 18 de julho, que determinou a saída da Igreja Metodista dos órgãos ecumênicos em que haja a participação da Igreja Católico Romana e igrejas não cristãs, refletindo-se no âmbito nacional e internacional em vários órgãos e igrejas, está levando a movimentação irmãos e irmãs inconformistas, boa parte ligados às nossas instituições e entidades ecumênicas, a caminhar no entendimento de que a decisão é inconstitucional, por ferir CLÁUSULA PÉTREA da Constituição Metodista.

Muitos baseiam-se na matéria publicada da lavra de Lair Gomes de Oliveira, com o tema: “Um ponto de vista jurídico da decisão do 18º Concílio sobre o Ecumenismo” (1), originalmente postado e anunciado como parecer jurídico e distribuído como tal, depois modificado para o tema acima, e que entende que por tratar-se de matéria doutrinária deveria obedecer ao comando do art. 20 da Constituição.

Diante disso fui questionado sobre tais elementos, e passo a emitir o posicionamento abaixo, e o faço de forma bem modesta, no que entendo ser CONSTITUCIONAL a decisão.

Questões levantadas:

1ª) HÁ ALGUMA CLÁUSULA PÉTREA NOS CÂNONES, OU ELAS SÓ EXISTEM NO ÂMBITO DA CONSTITUIÇÃO METODISTA ?

2ª) A DECISÃO DO 18º CONCÍLIO GERAL DA IGREJA FERE ALGUM PRECEITO CONSTITUCIONAL METODISTA ?

3ª) SE A OPINIÃO do Sr. LAIR GOMES DE OLIVEIRA estiver correta sobre a inconstitucionalidade da decisão, em que, para a aprovação da proposta de saída da IM dos órgãos ecumênicos só poderia ocorrer por decisão de 2/3 dos membros do Concílio Geral(2), indaga-se: não teria que ser observado os 2/3 também no Concílio Geral que aprovou tal ingresso em 1982, e no de 2001 em que o mesmo tema veio à discussão ?

Antes de adentrar o tema, devo salientar que o art. 20 da Constituição tem uma ressalva voltada ao art. 11, a que tratarei mais abaixo.

I - DA DISPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL METODISTA

É preciso entender a importância de uma Constituição, sua interpretação, e depois expor o que é CLÁUSULA PÉTREA e seu valor em nosso meio.

I.I.- O que é uma Constituição ?

“Constituição é a lei suprema e básica de uma associação humana politicamente organizada” (3). Por isso mesmo tem que ser mais enxuta do que os demais ordenamentos, pois os tais, sob sua égide, tem que estar amparados, sob pena de serem julgados como inconstitucionais.

O Prof. Manoel Gonçalves de Ferreira Filho diz: “...as Constituições escritas devem ser breves, para que tenham valor educativo. Assim, contentam-se em fixar apenas as regras principais, deixando ao legislador ordinário a tarefa de completá-las, de precisá-las” (4)

Ainda do mesmo autor: “Constituição é a lei suprema. É ela a base da ordem jurídica e a fonte de sua validade. Por isso, todas as leis a ela se subordinam e nenhuma pode contra ela dispor” (5)

I.II.- Como se interpreta uma Constituição ?

Em se tratando de LEI MAIOR de uma entidade, ela é quem dá a voz de comando a todo o ordenamento menor, chamado de infra-constitucional. Por isso mesmo, no nosso caso, os Cânones são chamados de Lei Ordinária, que por sua vez também dá a voz de comando para estatutos e regimentos dos órgãos, instituições e igrejas locais.

No nosso livro dos Cânones, encontramos a PARTE GERAL – Dos Elementos Básicos da Igreja Metodista (6) – e o CAPÍTULO II – Dos Costumes (7), que, num primeiro momento, são bases hermenêuticas primárias, para que a interpretação constitucional alcance objetividade sequelando os demais ordenamentos.

Veja que no art. 1º - DOS ELEMENTOS BÁSICOS DA IGREJA METODISTA – pág. 29, temos o comando do parágrafo único: “Em nenhuma circunstância, qualquer igreja local, órgão ou instituições podem planejar, decidir ou executar, ou ainda posicionar-se contra os elementos indicados neste artigo, porque dele decorre a característica metodista” (8)

A interpretação da Constituição Metodista se dá por meio de provocação da Comissão Geral de Constituição e Justiça, consoante dispõe o art. 51(9), que, ao longo dos anos vem praticando a deontologia constitucional, e formando jurisprudência interna sobre vários temas, e é o órgão que está tecnicamente preparado para isso (detém a competência material). Mesmo assim, suas decisões tem que ser homologadas pelo Concílio Geral – instância máxima.

Tomo emprestado, de relance, a lição do Prof. Willis Santiago Guerra Filho: “Praticar a “interpretação constitucional” é diferente de interpretar a Constituição de acordo com os cânones tradicionais da hermenêutica jurídica, desenvolvidos, aliás, em época em que as matrizes do pensamento jurídico assentavam-se em bases privatísticas (nesse sentido, COMPARATO, 1996, p. 74 e s.). A intelecção do texto constitucional também se dá, em um primeiro momento, recorrendo aos tradicionais métodos filológico, sistemático, teleológico etc. Apenas haverá de ir além, empregar outros recursos argumentativos, quando com o emprego do instrumental básico da hermenêutica jurídica não se obtenha como resultado da operação exegética uma “interpretação conforme a Constituição”, a verfassungskonform Auslegung dos alemães, que é uma interpretação de acordo com as opções valorativas básicas, expressas no texto constitucional” (grifo meu) (9) (ver nas notas de rodapé os indicativos bibliográficos mais usados para a hermenêutica jurídica)

Dessa forma, à Comissão Geral de Constituição e Justiça compete interpretar uma eventual provocação sobre a constitucionalidade da referida decisão conciliar, e ater-se exclusivamente aos aspectos legais, não podendo adentrar ao cunho teológico – com motivação somente “segundo a Constituição” (vide nas notas de rodapé o ensino de Hans Kelsen, mais as anotações doutrinárias de Konrado Hesse, após a nota nº 5)

Como as decisões da CGCJ só tem força de coisa julgada depois de homologado pelo Concílio Geral (§ 2º do art. 51 dos Cânones – pág. 190), por força do art. 45, instituída como INSTÂNCIA MÁXIMA da Igreja Metodista, a palavra final, em tese, ainda será do plenário do Concílio Geral – que já decidiu a matéria.

I.III.- O que é CLÁUSULA PÉTREA na Constituição ?
(vide a pergunta: Há alguma cláusula pétrea estabelecida nos Cânones, ou elas só existem na Constituição Metodista ?)

CLÁUSULA PÉTREA é aquele comando legal da Constituição, “duro e inalterável (como pedra)”, que só ela pode determinar, como e em que circunstância eventual alteração pode ocorrer, e quais as conseqüências diretas e indiretas que isso pode causar.

Elas estão presentes de forma explícita e implícita nos arts.: 1º-6º, 8º-9º, 12-15, 17-18 e 20. O que não é cláusula pétrea é o que foi revogado pela Emenda Constitucional nº 1(art. 7º), além do art. 10 e o 16.

Quando a Constituição expõe comando taxativamente, a exemplo do nome da Igreja, da forma de governo, das ordens eclesiais, dentre outras, a cláusula é explícita.

Quando ela adota em um artigo o termo: “princípios” – implica em elementos implícitos a toda a sua estrutura e FORMA de SER IGREJA (mística) – como no caso do art. 4º - determinando a MARCA DE SUA CONFESSIONALIDADE, ou seja: “pelo fruto se conhece a árvore”.

Destaques para o art. 1º - a questão da AUTONOMIA da IGREJA, e mais os arts. 11 e 20 – que mais adiante serão dispostos.

Invocar o instituto da CLÁUSULA PÉTREA nos Cânones é temerário, pois trata-se de legislação ordinária, modificada a cada Concílio Geral – o que não ocorre no caso da Constituição, salvo o disposto no art. 20 desta. Além disso, há dispositivos que podem ser inconstitucionais (como no caso do nº 2 do art. 103), porém enquanto não declarados como tais pela CGCJ, permanecem vigentes.

Antes de avaliarmos – no que nos importa -, a mais importante das CLAUSULAS, vejamos mais algumas definições doutrinárias:

Segundo a lavra da Profª Salete Oro Boff (professora de Direito da UNIJUÏ e URI-Santo Ângelo (RS), mestre em direito público pela UNISINOS): “Por cláusula pétrea, entende-se o dispositivo que impõe a irremovibilidade de determinados preceitos. Esse sentido obtém-se a partir do significado de seus signos lingüísticos: "duro como pedra". Na Constituição são as disposições insuscetíveis de ser abolidas por emenda, imodificáveis e não possíveis de mudança formal, constituindo o núcleo irreformável da Constituição, impossibilitando o legislador reformador de remover ou abolir determinadas matérias. Esses preceitos constitucionais possuem supremacia, paralisando a legislação que vier a contrariá-los.” (10)

Ela cria um direito, que ao mesmo tempo é coletivo e individual, não dando azo ao indivíduo a criar seus sistemas de forma independente. Ele pode pensar de forma até diferente, mas a bem dos demais membros da família a que a norma atinge como um todo, este renuncia sua individualidade em benefício do bem maior (coletivo), pois para isso assumiu compromissos e votos solenemente.

Ela atinge nossa visão de SOBERANIA, pois retira da individualidade a autonomia, em benefício do bem maior, sendo cabível nesse sentido, a lição de Ripert, utilizada por Hely Lopes Meirelles em sua obra: “o direito do indivíduo não pode ser absoluto, visto que o absolutismo é sinônimo de soberania. Não sendo o homem soberano na sociedade, o seu direito, é, por conseqüência, simplesmente relativo”(11) – (vide mais elementos nas notas de rodapé).

Aqui temos o sentido da SOBERANIA da Igreja, que nada mais é do que a prevalência do interesse coletivo sobre o individual e sobre o institucional. Renunciando cada indivíduo sua autonomia como membro da igreja, sujeita-se à forma de expressão de nossa Fé denominacional. Assim a Constituição estabelece nossa forma de ser igreja (e só ela pode fazê-lo), ao contrário de algumas posições pseudo-teológicas, que tendem dar-lhe uma interpretação diversa, duvidosa, falaciosa e artificiosa, com roupagens filosóficas transvestida de “visão do ser igreja” que, em essência, são à vontade soberana da Igreja estranhas.

Por ser SOBERANA, é preciso entender quem é o destinatário final da norma (cláusula pétrea).

Neste sentido, nossa CONSTITUIÇÃO METODISTA é dogmática – ao contrário do que pensam alguns, pois ao estabelecer no art. 4º nossas doutrinas, estatui que elas são “ os princípios de fé aceitos pelo Metodismo Universal, os quais tem por fundamento as Sagradas Escrituras...., as quais contêm tudo quanto é necessário para a salvação e são suficiente regra de fé e prática para os cristãos” (12), já exclui, de IMEDIATO, outras tradições ou inserções não aceitas pelo Metodismo. Logo, o DESTINATÁRIO FINAL desta norma é a IGREJA como um todo.

Essa é uma das mais veementes cláusulas pétreas de nossa Constituição, que assevera, nos §§ 1º e 2º, que temos um conjunto de doutrinas que se expressam:

§ 1º - A tradição doutrinária metodista orienta-se pelo Credo Apostólico, pelos Vinte e Cinco Artigos de Religião do Metodismo histórico e pelos Sermões de John Wesley e suas Notas sobre o Novo Testamento.

§ 2º - A doutrina social da Igreja Metodista se expressa no Credo Social.

Entretanto, ao dispor o complemento no art. 11 acrescenta mais uma, que é a do nº 3 do artigo. Vejamos:

3.- Contrariar os princípios das Regras Gerais estabelecidas por John Wesley.

Por REGRAS GERAIS, os Cânones as elencam no CAPÍTULO II sob o tema: DOS COSTUMES – págs. 43/44 dos Cânones de 2002, e às págs. 45-57 do mesmo livro temos o CREDO SOCIAL.

Detalhes: No item IV da RESPONSABILIDADE CIVIL - no CREDO SOCIAL, nº 4 – diz que a IM adota a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS e reafirma os critérios definidos no relatório especializado do Conselho Mundial de Igrejas em sua II Assembléia, reunida em Evanston (EUA), em 1954, definindo em seguida os termos....

Além disso, no item V – PROBLEMAS SOCIAIS, ao dispor que “A Igreja Metodista considera que: .... no item 9, assenta:.... “É de inadiável urgência.... que visem ao cumprimento dos Direitos da Criança que foram proclamados pela Assembléia Geral das Nações Unidas em 20 de novembro de 1959”

Neste sentido, não há nas CLAUSULAS PÉTREAS apontadas nenhuma vinculação da Igreja a qualquer órgão religioso de qualquer matiz que não seja o do METODISMO UNIVERSAL.

Sua “voz de comando” é UNIVOCA.

Essa é a CLÁUSULA PÉTREA (constitucional) a que estamos circunscritos, e A DECISÃO DE SAIR DOS ÓRGÃOS ECUMÊNICOS EM QUE A ICAR FAZ PARTE é CONSTITUCIONAL.

Nem a nossa constituição, nem o nosso conjunto de Doutrinas (que se expressam no Credo Apostólico, nos 25 Artigos de Religião, Sermões de Wesley e Notas sobre o Novo Testamento), nem nossos Costumes, nem nosso Credo Social, nem o Plano Vida e Missão estabelecem o DEVER de vinculação da Igreja Metodista a qualquer orgão ou entidade ecumênica.

Nem mesmo há uma definição do que seja “ser ecumênico”, até porque à época de Wesley o termo não era empregado, e não há indicios de que ele tenha laborado da forma como alguns tentam dar-lhe tal roupagem, bastando, para isso, consultar seus sermões, notas sobre o NT, cartas, livros, diário ou até mesmo Atas das Reuniões – ao menos do que se tem traduzidos, quer para o espanhol, quer para o português na versão de Izilda Bella (vide nota de rodapé informações sobre material traduzido).

O que nossa Constituição OBRIGA, a todos vincula: quer clérigos/as, quer leigos/as, quer às instituições. O que não nos OBRIGA, libera, dentro dos permissivos da competência material ordinária.

II – A questão do “quorum” de 2/3 do Concílio Geral para a decisão.

Não podemos confundir o “quorum” estabelecido pétreamente, com o “quorum” comum ou especial estatuído na legislação infra-constitucional, seja ela a canônica, estatutária ou regimental.

Os quoruns pétreos estão estatuídos no parágrafo único do art. 11 e no “caput” do art. 20 da Constituição Metodista. Vamos a eles:

II.I – O quorum do art. 11:

A – Quando se trata de matéria doutrinária (que não é o caso do que ocorreu na votação do último concílio Geral), os concílios regionais fazem a recomendação de modificação, tendo sido aprovada em todos eles por dois terços dos votos apurados EM TODOS ELES, e confirmação do Concílio Geral imediato, por dois terços dos votos apurados;

OU...

B – DE FORMA INVERSA: por dois terços dos votos apurados em Concílio Geral, e confirmação dos concílios regionais por DOIS TERÇOS – no mínimo – da totalidade dos votos apurados em todos eles.

Não basta só o Geral decidir por 2/3 dos votos;

Não basta só os concílios regionais decidirem por no mínimo 2/3 dos votos.

Tem que haver entre ambos uma SIMETRIA de DECISÃO.

SE um concílio regional não obtiver 2/3 dos votos, a pretensa mudança do art. 4º cai por terra.

II.II – O “quorum” do art. 20:

É diferente do “quorum” do art. 4º.

Enquanto neste são necessários 2/3 dos membros do Concílio Geral – que é diferente do total dos votos do plenário, que não pode modificar-se por fatores quaisquer, o art. 4º fala de 2/3 dos votos apurados, isso é: dos que estiverem presentes no plenário, e aqui deve ser consultado o art. 95 dos Cânones, que não dispõe sobre “quorum”, deixando a matéria ao arbítrio regimental.

O RITUAL de cada artigo é diferenciado em substância e forma.

II.III – Os “quoruns” anteriores:

A – A primeira decisão que originou o ingresso da IM no CONIC ocorreu em 1982, antecedendo das decisões regionais, e não atingiu 2/3 dos votos no Geral – bastando, para isso, consultar as atas do Concílio, ISSO se deixarmos os comandos do art. 4º e nos detivermos SOMENTE no art. 20 em sua primeira parte, e forçosamente teríamos que RETROAGIR a matéria ao seu nascedouro e decidir pela inconstitucionalidade da primeira decisão.

LOGO: a decisão original que nos levou a participar do CONIC teria que ser REVISTA e declarada NULA DE PLENO DIREITO.

M A S .....

Como apagar o que foi feito em 24 anos ?

B – A segunda decisão sobre a matéria em Maringá-PR, ocorreu em 2001 com uma contagem interessante. Vejam:

Total de membros votantes no plenário do Concílio: 104 membros
Total de votos pela permanência da IM no CONIC: 65 votos
Total de votos contrários: 33 votos
Abstenções: 6

Como 2/3 dos votos daria um total de 70 (na verdade dá uma dízima: 69,3333), 65 votos não constituiria os 2/3 necessários para a aprovação.

LOGO: Se partirmos do mesmo raciocínio do nosso irmão LAIR, a segunda votação também colocaria a manutenção da IM no CONIC como NULA DE PLENO DIREITO – e seria o mesmo que dizer: ESQUECEMOS QUE TEMOS CONSTITUIÇÃO e juntos sofremos desnecessariamente por 24 anos inglórios.

III – A QUESTÃO DA AUTONOMIA DA IGREJA: art. 1º da Constituição

APENAS COMO ADENDO FORA DO TEMA:

Como elemento levantado no item I.III, onde eu disse que mais abaixo abordaria, passo a fazê-lo sinteticamente:

Após o encerramento da 1ª fase do Concílio Geral em Aracruz-ES, noticiou-se que foi assinado a DECLARAÇÃO CONJUNTA sobre a DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ pelos metodistas, luteranos e católicos romanos (esses 2 últimos já a haviam assinado em 1998, e o Concílio Mundial Metodista o fez neste mês).

MESMO filiado à entidade mundial da denominação, isso não altera o dispositivo constitucional metodista pátrio da AUTONOMIA (art. 1º da Constituição), nem a decisão do Concílio Geral sobre ecumenismo.

A Igreja Metodista em cada país é AUTÔNOMA.

Isso implica dizer que em cada país ela é livre para decidir, e até mesmo para permanecer como membro ou não do Concílio Mundial Metodista, bem como a sua forma de governo.

O art. 4º de nossa Constituição diz que a nossa Igreja “ADOTA os princípios de fé aceitos pelo Metodismo Universal....”

Também implica dizer que o fato de tal declaração ter sido assinada em nome do Concílio Mundial, não nos obriga, como IGREJA NACIONAL, a anuí-lo, ainda mais quando o Concílio decidiu sobre a questão ecumênica da forma como o fez.

Entendo – salvo melhor juízo – que a nossa decisão no Geral não referenda a decisão do Concílio Mundial – mas também não nos retira dele por tratar-se apenas de um documento.

CONCLUINDO:

A decisão do 18º Concílio Geral que decidiu pela saída da Igreja Metodista dos órgãos ecumênicos onde há a participação da ICAR, segundo minha modesta ótica, não é inconstitucional, pois não fere CLÁUSULA PÉTREA ALGUMA, muito menos se pode dizer que ela ALTERA NOSSO CONTEXTO DOUTRINÁRIO, pois a decisão do que ela revogou não fere qualquer instituto de nossa fé denominacional.

Por outro lado, mesmo que eventual consulta de lei venha a ser feita perante a CGCJ, e essa decline de analisar o tema sob o enfoque teológico, alegando imcompetência material para isso, não se pode negar que a permanência da Igreja Metodista em tais órgãos, da forma como eles vinham e vem procedendo na postura macro-ecumênica, deixava ferido o nosso art. 4º da Constituição Metodista, eis que os 25 artigos de religião, os Sermões de Wesley e as suas Notas sobre o Novo Testamento, deixam claro a incompatibilidade do catolicismo romano e das religiões não-cristãs com as doutrinas e práticas metodistas, comparados em sua totalidade (do que se tem traduzidos) com todos os principais documentos da Igreja Católico-Romana, dentre os quais as Constituições: Lúmen Gentium, Bônus Pastor, as cartas encíclicas: AD TUEDAM FIDAM, UT UNUM SINT, MOTU PRÓPRIO, REDEMPTORIS MATER, REDEMPTORIS MISSIO, DUODECIUM SAECULUM, ORDINATIO SACERDOTALIS, DOMINIUS IESUS, ECCLESIA DE EUCHARISTIA, MORTALIUM ANIMUS, REDEMPTORIS CUSTUS, ROSARIUM VIRGINIS MARIAE, DECRETO UNITATIS REINTEGRATIO, e todos os demais documentos que inseriram no Código de direito Canônico da ICAR os artigos: 23, 24, 27, 204 §§ 1º, 2º, 205, 212 § 1º, 273, 330, 331, 333 § 1º, 345 § 3º, 336, 338 § 2º, 368, 375 § 1º, 673, 705, 747, 749 (que trata da infalibilidade papal) §§ 1º e 2º, 750 “caput” e §§ 1º e 2º, 751, 752, 754, 756 § 1º, 849, 853, 868 § 2º, 897, 899 § 1º, 900 § 1º, 901, 945 §§ 1º e 2º, 959, 960, 961 § 1º e n. 2, 962 § 1º, 963, 964 § 1º, 965, 966 § 1º, 967 § 1º, 969 § 1º, 976, 978 §§ 1º e 2º, 980, 981, 986 § 1º, 987, 988 § 1º, 989, 991, 992 a 998, 1005, 1008, 1372 – dentre outros, sem exceção, que ofendem diretamente TODOS os princípios da Fé Cristã Evangélica apontados pelo metodismo, como nosso dever de observância e pauta de vida.

É o meu PARECER “sub censura”.

Dino Ari Fernandes
Pastor Metodista e Advogado

Na Crista da Onda do Início do 3º Milênio

Por: Derrer Homer Santee

O 18° Concílio Geral da Igreja Metodista

O início do terceiro milênio está sendo marcado por um fenômeno assustador – movimentos fundamentalistas dentro das três grandes religiões monoteístas, islamismo, cristianismo e judaísmo. O primeiro choque foi no dia 11 de setembro de 2001 quando fundamentalistas islâmicos destruíram as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York. O segundo foi a reação do presidente Norte Americano com a ocupação brutal do Iraque, influenciado pela sua base eleitoral, os fundamentalistas cristãos dos Estados Unidos. Estamos assistindo o terceiro choque: o fundamentalismo judaico, que controla a política do governo de Israel: está impiedosamente matando centenas de Libaneses com suas armas poderosas, a grande maioria mulheres e crianças inocentes que apenas querem viver em paz.

O fundamentalismo moderno teve suas origens no século passado e os fundamentalistas das três religiões têm muito em comum. Todos visam o retorno da sua religião à pureza das suas origens, defendendo os fundamentos da fé. Interpretam suas escrituras ao pé da letra e se sentem “divinamente chamados” para cumprir a missão de renovação. Cada uma das três considera a sua religião como única e verdadeira. Não há espaço para diálogo porque suas “verdades” são divinas e não podem ser comprometidas. Os que não compartilham com eles são considerados maus e inimigos a serem convertidos, neutralizados ou destruídos. Dentro de cada uma das três religiões monoteístas há grupos fundamentalistas rivais, brigando entre si. A grande ironia histórica é que, no zelo de promover sua causa, a essência da fé se torna vítima. A misericórdia de Alá, a justiça bondosa de Javé, e o amor incondicional de Jesus são ignorados. Vale tudo para cada um atingir seu alvo.

Quem presta atenção pode ver estas forças operando nos noticiários da TV, dos jornais e das revistas. As guerras no Oriente Médio e a política dos Estados Unidos são exemplos claros. No âmbito religioso do Brasil este fenômeno é muito evidente. O cristianismo é uma verdadeira Babilônia de línguas e mal entendimentos, cada um tentando “vender seu peixe”, desprezando o peixe dos outros!...

Já fui fundamentalista e carismático. Entendo a sua mentalidade. Antes de eu possuir subsídios para ter uma visão crítica, fui fundamentalista e carismático convicto. O movimento carismático protestante é na essência, fundamentalista, assumindo suas atitudes e táticas. Dentro do protestantismo brasileiro o espírito fundamentalista é muito forte, especialmente no âmbito carismático. O movimento carismático metodista não foge a regra.

O movimento julga ter uma espiritualidade superior aos outros e procura se distanciar dos que não têm a mesma visão. Confundem seu movimento com o Reino de Deus e acham que suas conquistas são vitórias Divinas. Seu objetivo é tomar o poder e dominar a igreja, imprimindo sua imagem. Colocam os demais como condenados de Deus e recusam associar a eles como irmãos. É a continuação da história de Caím que recusou dar tratamento de irmão para Abel ou da parábola do filho mais velho que recusou se aproximar do seu irmão mais jovem.

É diante deste pano de fundo que analiso os acontecimentos do 18º Concílio Geral. Não estive presente, mas tenho procurado ler o que está sendo publicado. Fico com a impressão que a dinâmica do Concílio Geral não era em nada diferente do que o do Congresso Nacional ou qualquer outra assembléia política. Mas tudo era feito em nome do Espírito Santo.

Será que este Concílio Geral, não foi o palco de jogo de poder feito em nome do Espírito Santo? Será que a maioria dos delegados não foi cuidadosamente escolhida e instruída, chegando ao Concílio com sua agenda já pronta? Será que os debates não foram uma série de monólogos? Pelo que tenho lido e pela minha participação em outros concílios, há muito para indicar que este foi o caso.

As decisões do 18º Concílio parecem dentro da onda de radicalismo e alienação que está dominando o cenário político e religioso do mundo onde a luta é pelo poder neste início do milênio. Um grupo dentro do metodismo brasileiro (o movimento carismático) tomou o poder com a finalidade de impor sua agenda.

O Colégio dos Bispos é dominado por uma só linha de pensamento. Há pouco pluralismo.

Na sua decisão de se retirar de entidades ecumênicas o metodismo brasileiro se isolou não somente de outras igrejas que professam Cristo, mas do metodismo mundial! Deixou de ser Wesleyano.

Parece que o 18º Concílio Regional da Igreja Metodista estava mesmo na crista da onda deste o início do terceiro milênio.

Derrel Homer Santee
Campinas-SP, agosto de 2006

Meditação Diária 5 de Agosto

Leituras: I Timóteo 6:11-16 ou II Pedro 1:12-21

Nossa fé pode ser compartilhada...

Temos obrigação de buscar a comunhão e constituir comunidades fraternas, que sejam uma manifestação e uma participação do amor de Deus. Em meio a um mundo dividido, algumas vezes em discórdia e guerras entre nações e culturas, classes e raças, mulheres e homens, os cristãos dever ser sinal profético de unidade e paz. A unidade visível das Igrejas cristãs, que é dom de Deus e vocação, requer que confessemos juntos a mesma fé, que vivamos a vida sacramental e compartilhemos o mesmo ministério, no testemunho e no serviço ao mundo. [...]

É importante possuir uma confissão de fé que proclame a base comum que nos une, a qual pode produzir modos diferentes de ser Igreja, em tradições culturas diversas. Isso não precisa ser motivo de divisão e confronto, mas pode ser considerado um sinal de riqueza contida no mistério cristão, que não se esgota num único modo de expressão. É claro que há um limite para a aceitação da diversidade, que deve ser compatível com a identidade cristã legada em nossas origens. O credo expressa essa identidade. Além das divisões, existem casos concretos de confissão comum da fé: nas reuniões ecumênicas, na Semana de Orações pela unidade dos Cristãos, em comunidades e movimentos. Os cristãos devem estar unidos na fé não somente com os que hoje a compartilham, mas também com os que ao longo dos séculos a confessaram e testemunharam, muitas vezes com sacrifícios e martírios. Graças ao dom permanente do Espírito Santo, o testemunho da fé apostólica [universal] transmitida pelas Escrituras permanece vivo nas comunidades cristãs.

Extraído:Compartilhando a fé comum: Guia de estudos e celebração da fé para grupos de reflexão - 2005 - Conic - Conselho Nacional de Igrejas CristãsContribuição - Maria e Robert Stephen Newnum - Maringá

Fome de Unidade na Igreja de Jesus Cristo

Por: Derval Dasilio

João 6,35;41-51 – “Quem me come terá mais fome...”

Pan de la Eucaristía / Pão da Eucaristia
(Luis de León)

Si pan es lo que vemos, /
Se pão é o que vemos,
¿cómo dura, sin que, comiendo dél, se nos acabe?/Como dura sem que, dele se comendo, nunca acabe?
Si Dios, ¿cómo en el gusto a pan nos sabe? /
Se é Deus, como é sentir Seu gosto?
¿Cómo de sólo pan tiene figura? /
Tem somente a figura de pão?
Si pan, ¿cómo le adora la criatura? / Se é pão, como pode a criatura o adorar?
Si Dios, ¿cómo en tan chico espacio cabe? / Se é Deus, como cabe num espaço tão exíguo?
Si pan, ¿cómo por ciencia no se sabe? /
Se é pão, como não somos conscientes disso?
Si Dios, ¿cómo le come su hechura? /
Se é Deus, como pode ser comido em seu feitio?
Si pan, ¿cómo nos harta siendo poco? /
Se é pão, como pode nos fartar sendo tão pouco?
Si Dios, ¿cómo puede ser partido?/
Se é Deus, como pode ser partido?

Com este poema, ouso traduzir do meu jeito, sem roubar do leitor o gosto de seu próprio entendimento, introduzo meu livro Reflexões sobre o Partir do Pão e a Eucaristia. Assim, sob a influência da beleza, que é atributo de Deus, e evoca seguramente a sua glória participada com o humano, introduzimos os textos coletados aqui e ali, sempre prontos aos acréscimos, aos sentidos novos na releitura que se abre ao transcendente. O mistério da Santa Ceia é da alçada do mistério sagrado e não da filosofia. Na poética das utopias sonhadas, recorreria a Gaston Bachelard, parodiando-o: “ousai dizer o que chamais de eucaristia, doce como um fruto que primeiramente se condensa, / para chegar à claridade, ao despertar, à verdade transparente, / tornando-se uma coisa aqui da terra / que significa o sol e a própria terra”. Pretender aproximar-nos dessa significação por meio de considerações ontológicas, relativizá-la na origem das coisas, conduz a um impasse. São condenadas ao fracasso as especulações que pretendem compreender pela razão e pela inteligência aquilo que pertence à ordem da fé, por submeter a exame de labora­tório algo que se furta a toda objeção ou intervenção humana (J.-Ph. Ramseyer). Assim, o mesmo ocorrerá com as gaiolas doutrinárias que prendem os mistérios de Deus, enquanto excluem os demais irmãos em Cristo na comunhão particular. Enquanto não recebermos todos os irmãos na mesa da comunhão, em hospitalidade eucarística, sinalizaremos o pecado que não nos habilita à eucaristia plena; pecado que nos separa (diábolos), enquanto retardamos a hospitalidade do Cristo que orou por nós: “Pai, que sejam um, como Eu e Tu somos um!

Compreende-se, pois, que Jesus não tenha usado imagens celestes para anunciar as coisas transcendentais do Reino de Deus, mas tenha buscado a concretude terrestre do pão e do vinho, oferendas da mesa da comunhão. Um banquete é uma boa imagem para representar a promessa do Reino celebrado por seus súditos, de todas as procedências, uma verdadeira comemoração pelo cumprimento das promessas divinas, e se tenha então apelado às figuras das dádivas e das oferendas da mesa eucarística. Na repetição de uma simbologia de costumes e significações históricas a ceia pascal pretende dar a imagem antecipada da realidade escatológica que é o banquete messiânico, sem exclusões. Ondas nervosas correm nas linhas e nas imagens do texto joanino.

A raiz do homem, suas profundezas imemoriais, a alma, o ser inteiro (nephesh) tem fome e sede de vida (hayyîn é vida; no momento da criação do ser-homem Yahweh soprou nas narinas do homem “um fôlego de vida”; adam, coletivo de humanidade, começa a viver com o “alento” do Criador). Comer e beber são necessidades vitais. Uma vida feliz sem fim, plena de bem-estar social e político, eterna, emerge de utopias mais remotas, mesmo quando aparentemente esquecidas nos abismos da existência humana. O equilíbrio virá no anúncio conseqüente do shalom, a paz que excede a todo entendimento, onde todas as formas de bem-estar, concretas, terrenas, celestiais, são alcançadas. Trata-se de um pensar que opera no mais escondido lugar onde se quer sepultar, sem esperança de ressurreição, reafirmado nas promessas do Deus da Bíblia. Os cumprimentos finais encontram aqui uma antecipação histórica, uma atualidade, que é presença e promessa do Reino de Paz e Justiça. Reconhecer e compreender ­agora as significações das coisas últimas em suas manifestações mais sensíveis, agora; alimentar a esperança a partir da encarnação concreta nos problemas e nas necessidades humanas, na celebração da Ceia do Senhor, mais que nunca, é admitir que é o Pão da Vida que se oferece como alimento e libertação dos homens e das mulheres no tempo de salvação. Reconciliação é uma palavra mágica, “...para que o mundo creia”: o mundo só crerá no Salvador e na salvação se os cristãos se apresentarem como reconciliados e unidos.

Para o evangelista João o mistério da Eucaristia se inscreve numa situação cuja peculiaridade é que, sendo terrestre, ela se esclarece no céu, donde, aliás, recebe sua significação. As realidades presentes são promessas de um destino sobrenatural, ao passo que as realidades futuras já tomam forma nas figuras temporais. A memória reavivada na Eucaristia alcança um surrealismo impressionante, como significações que evocam flores e perfumes, belezas do mundo real, gostosas de serem sonhadas, e saborosas ao mesmo tempo, no dizer da instrução para a comunhão da mesa. Só a voz do poeta, sem surpresa na linguagem de João, permite penetrar no âmago da instrução eucarística do evangelista.

A comunidade de fé, ciente das próprias forças e tarefas, supera a divisão entre a hierarquia e o laicato, entre teólogos e não-teólogos. Porém, principalmente, está acima das divisões históricas que clamam por reconciliação. Crê que a Ceia é do Senhor, e não da Igreja. Ou melhor: de nenhuma igreja denominacional. Vence, assim, na própria área de ação, a alienação produzida pela divisão de tarefas, na Missio Dei (Missão de Deus). Numa sociedade que estabelece privilégios e fronteiras de classes, mantidos através da crescente divisão do trabalho e da especialização, a Igreja na unidade pode demonstrar a esperança por um futuro mais humano por meio do que estamos chamando de "comunidade ministerial" evocada em Efésios 4: “toda a Igreja é ministerial”. Todos os batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, são chamados por Jesus Cristo para realizar a Missão de Deus. Por quê? Porque no ato do Batismo há a impetração da bênção. A imposição de mãos no batismo significa a inclusão do batizado nos ministérios da Igreja, nas palavras sábias do colega Anacleto Rodrigues da Silva. Está em companhia de Comblin, que também pensa assim. Concordamos, aplica-se também aos que “podem” ou que são “habilitados” a participar da Ceia do Senhor. Que mais clareza se exigirá da Escritura? Negaremos, também, o batismo dos outros irmãos, para excluí-los da comunhão com Cristo?

Derval Dasilio
Pastor da Igreja Presbiteriana Unida

“...Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós...”(?) (At 15.26)

Por: Messias Valverde

Nos últimos anos tenho me dedicado à pesquisa do fenômeno religioso e mais especificamente sobre a Liturgia Cristã em suas diversas expressões. Esse exercício acadêmico tem me proporcionando o desafio de intensificar os limites do diálogo, na perspectiva do “pensar e deixar pensar”, com os segmentos internos do metodismo brasileiro, com o cristianismo católico e com o pentecostalismo em suas expressões ”clássica, neoclássica e neopentecostal.”

O Curso de especialização em Estudos Wesleyanos feito recentemente na FATEO não me deixou dúvidas de que as propostas evangélica e Wesleyana têm no diálogo com o diferente o espaço por excelência de vivência dos valores do Reino de Deus.

Por outro lado, tenho percebido nas últimas décadas, especialmente a partir dos anos 90, que o chamado “movimento carismático metodista” há muito substituiu a busca dos valores ligados à piedade, pela luta aberta por postos de poder eclesiástico. O que ainda não estava claro é que para conseguí-los o grupo fosse capaz de utilizar instrumentos articulatórios até então só perceptíveis nos bastidores políticos comuns.

Na verdade, a operação sanguessuga, com significativa participação da bancada evangélica, já deveria sinalizar que já não se faz pessoas piedosas como em tempos passados, principalmente quando os “desafios do reino” (?) envolvem poder, status e dinheiro.

O que se viu no último Concílio Geral Metodista foram aberrações teológicas e históricas, num descarte cruel e sumário de dois bispos metodistas, um deles presidente do Colégio Episcopal, para substituição por outros de agrado dos articuladores e um corte nos espaços dialogais ecumênicos. As duas atitudes totalmente incompatíveis com os desafios do evangelho e com a tradição metodista.

Como seria bom se realmente nossos Concílios fossem alicerçados na força da oração, da espiritualidade, da ética, da dignidade, do respeito ao outro! Como seria bom se pudéssemos chegar ao desfecho das principais pautas conciliares com a afirmação: “Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”. No caso do último Concílio ainda se pode dizer que todas essas decisões foram tomadas no Espírito Santo (Aracruz).

Messias Valverde
IV Região Eclesiástica
Coordenador da Pastoral do Instituto Metodista Granbery

Meditação Diária 04 de Agosto

João 8:1-11 Jesus continua perdoando e você?

Condenar ou perdoar! Qual dessas atitudes nós adotamos com mais freqüência? Pelo fato de sermos justos, mas, ainda pecadores, temos uma inclinação pela atitude dos escribas e fariseus: queremos tirar o cisco do olho de nosso irmão, sem, antes tirar o pedaço de madeira que está no nosso olho; queremos emitir juízo sobre os outros e esquecemos que seremos julgados com a mesma medida com que julgamos. Ignoramos que a misericórdia de Deus se faz presente em Jesus, que não veio para julgar, mas para salvar. Ele espera que também não nos coloquemos na posição de acusadores, mas que sejamos mensageiros da misericórdia e do amor que ele tem por nós.

Hoje, não se usa mais o apedrejamento, como na época de Jesus, mas, normalmente, fazemos algo pior quando condenamos alguém por seu pecado, baseado num falso moralismo. Sempre foi fácil apontar o dedo e criticar o outro. No entanto, não foi isso que fez Jesus. Ele disse que ninguém tem o direito de condenar alguém, pois todos temos os nossos erros e dependemos, igualmente, da graça de Deus. O mestre não disse que aquela mulher estava certa. Conhecendo seu erro, exortou-a: “Vá e não peque mais!”

O Senhor continua perdoando como perdoou a mulher adúltera [quantos homens adúlteros haviam ali]. Ele espera ver em nós a mesma atitude. Por isso exorta: “Não julguem os outros, e Deus não julgará vocês. Não condene os outros, e Deus não condenará vocês. Perdoem os outros, e Deus perdoará vocês” - Lucas 6:37.

Que Deus, Espírito Santo nos ensine a perdoar como Jesus perdoou.

Para Meditar: Tenho seguido o exemplo de Jesus ou o exemplo dos que estavam do outro lado com as mãos cheias de pedras?

Extraído: Castelo Forte 2006- Meditações diárias da Igreja Evangélica de Confissão LuteranaContribuição: Maria e Robert Stephen Newnum - Maringá

03 agosto, 2006

Carta dos Bispos e Bispa ao 18 Concílio Geral

Aracruz, 10 de julho de 2006

Irmãos e Irmãs da Assembléia do 18º Concílio Geral

Permaneça sobre nós a Graça do Deus Trino.

Vimos perante o plenário do 18º Concílio Geral oferecer o posicionamento do Colégio Episcopal sobre o ensino e práticas ecumênicas da Igreja Metodista no Brasil. Antes de tudo, entretanto, julgamos necessário voltar a expor a metodologia usada na fase pré-conciliar, na preparação deste 18º Concílio. Precisamos relembrar que inovamos nossos procedimentos sobre a metodologia adotada em outros Concílios Gerais. Esta inovação deve-se principalmente à avaliação do que ocorreu no 17º Concílio Geral, em Maringá no ano 2001. Naquele conclave tivemos em plenário um Caderno com 156 propostas, proveniente de pessoas, igrejas e regiões, e outras 40 oriundas da área nacional da Igreja. No total, 196 propostas com diversidades de matérias para a Vida e Missão da Igreja. A análise dos conteúdos em plenário teve dificuldades, pois pontuava questões esparsas, muitas das quais de caráter programáticos e mais pertinentes à fase pós-Concílio.

Na fase preparatória deste 18º Concílio Geral, adotamos como metodologia continuar ouvindo a Igreja, mas agora por meio de "sugestões" e não de "propostas" para direta recepção e apreciação no plenário conciliar. Na metodologia, coube ao Colégio Episcopal e à Coordenação Geral de Ação Missionária tomar a decisão sobre quais "sugestões" deveriam tornar-se "propostas", ao lado ou integradas às destes dois órgãos da área nacional. E decidir quais delas serão, após o Concílio, encaminhadas como sugestões para Planos de Ação, por serem de caráter programático. Assim, nos Cadernos de Propostas deste Concílio temos pouca quantia de propostas, mas grande relevância em seus conteúdos. Inclusive propostas para substancial adequação na lei da Igreja, na Constituição e na lei ordinária.

O Colégio Episcopal não encaminhou a este Concílio, nos Cadernos próprios, nenhuma proposta que especialmente tenha a ver com a prática ecumênica da Igreja Metodista. Optamos por não transformar "sugestão com conteúdo de questão ecumênica" em texto de "proposta". Nessa opção, metodológica, um de nossos princípios orientadores, por exemplo, está em um dos momentos do 17º Concílio Geral. Em sua última sessão, foi posta em debate a proposta 135. Após Ter sido a matéria "amplamente discutida", o plenário "votou favoravelmente pela permanência da Igreja Metodista no Conselho Nacional de Igrejas Cristãs" – CONIC (Atas e Documentos do 17º. CG, p.366).

Não obstante tendo-se em consideração que o tema estado presente nas discussões pré-conciliares, como é do conhecimento geral da Igreja, nós, como Colégio Episcopal, desejamos aprofundar pastoralmente a nossa palavra, pois temos como responsabilidade proporcionar orientação à Igreja quanto à doutrina e aos princípios de fé, moral e ética cristã, em cumprimento à função que em nome de Deus e da Igreja Metodista no Brasil nos tem sido confiada por Concílios Gerais anteriores.

Em documentos preparatórios deste 18º Concílio, referências a respeito da unidade cristã não estão ausentes nas matérias que o Colégio Episcopal encaminhou às delegações. Elementos indicativos do imperativo teológico e da vontade missionária de "preservarmos a unidade do Espírito no vínculo da paz" estão em um dos Compromissos no Plano Nacional Missionário. E também no tópico que encerra o Relatório do Colégio Episcopal, quando nos pronunciamos sobre "A unidade da Igreja".

Estamos conscientes de que o uso do termo ecumênico desperta diferentes reações em diferentes grupos dentro e fora da Igreja. O termo, relembremos, originalmente tem o sentido de globalidade, de totalidade da terra habitada. Tem sentido de desejo de plenitude, de relacionamentos em consonância. Neste contexto, John Wesley, afirmou, referindo-se aos metodistas: "Nós somos um novo fenômeno na terra; um corpo de pessoas que, não sendo de nenhuma seita ou partido, são amigas de todos os partidos e se esforçam em incentivar todos na religião do coração, no conhecimento e no amor de Deus e do ser humano" (Sermão 121, Profetas e Sacerdotes, § 18). Relembramos, ainda, que os metodistas estão entre os primeiros que nos últimos cento e vinte cinco anos retomaram o uso deste termo quando da primeira conferência mundial metodistas na final do século dezenove, evento chamado de Conferência Ecumênica. Entretanto, sabemos e não podemos ignorar o fato de que no presente momento o termo tem sido usado de maneira controvertida suscitando sérias e graves distorções. Estamos firmemente convencidos de que nem tudo que é adjetivado de ecumenismo, particularmente na mídia secular, se coaduna com nossa interpretação e prática ecumênicas.

Como Igreja Metodista, precisamos ter plena consciência de que as questões ecumênicas estão "em movimento", e diante de nós, queiramos ou não, gostemos ou não, assim como outras questões do campo religioso que estão demandando nossa cuidadosa atenção, como o crescimento, de um lado, do movimento pentecostal, e, do outro, do pluralismo religioso. Por essa razão, queremos falar em "caminhada ecumênica". Podem variar as formas de darmos nome ao relevante assunto "ecumenismo". Podemos dizer "unidade cristã", "questão ecumênica", "espírito ecumênico", "diálogo e cooperação interdenominacional". Optamos por destacar "caminhada ecumênica", em uma expressão próxima de nossas experiências pessoais de vida, de nossos cotidianos. Como já mencionado, sabemos que o próprio termo ecumenismo e as práticas ecumênicas desenvolvidas têm gerado tanto grandes oportunidades de testemunho e serviço cristãos, como grandes controvérsias. Requer-se, na discussão sobre ecumenismo, disposição, mente e coração para discernir os desafios enfrentados pelo compromisso com a unidade cristão quanto às suas possibilidades, oportunidades, dificuldades e limites, à luz do mandato expresso pelo próprio Senhor Jesus na oração sacerdotal, na qual intercedeu ao Pai não só por seus discípulos, mas por todos que viessem a crer nele, quando disse: " A fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles nós; para que o mundo creia que tu me enviaste". (João 17.21).

Jesus se apresentou como O Caminho. Os primeiros cristãos foram conhecidos como os do caminho (Atos 9.2; 22.4). Está no contexto da teologia wesleyana falamos em caminho da salvação. Quem está num caminho encontra-se "em direção a". Caminho, portanto, é palavra com conteúdo teológico. No ecumenismo não há teses prontas e perfeitas, estamos em caminhada, em direção a, como peregrinos. Procedimentos fundamentais nesta caminhada são vividos no diálogo, respeito pelos outros, consciência de identidade, honestidade na colocação daquilo que nos une e daquilo que nos espera, cooperação para o bem comum, alegria nas vitórias, perdão.

Na "caminhada ecumênica" estamos, ao lado de e com outros, dialogando, fazendo, aprendendo, cooperando, celebrando, e inclusive descobrindo a respeito de nós mesmos. Há um, praticamente interminável, percurso a ser feito. Reconhecendo que há grandes oportunidades e possibilidades de testemunho e serviço mediante a cooperação entre as diferentes igrejas e confissões, reconhecemos também que há grandes dificuldades e limites nessa caminhada, tanto de ordem doutrinária como de ordem prática.

Reconhecemos, ainda, que, como Colégio Episcopal, não fomos capazes de aprofundar junto `as nossas igrejas locais nosso diálogo sobre a compreensão e prática ecumênica, apesar da nossa Carta Pastoral sobre Ecumenismo elaborada em 1999. Tudo isto tem gerado, inquietações e incompreensões no seio de nossa Igreja. Diante de tal quadro, muitas vezes tendemos ao isolacionismo e, com o sadio intento de resguardar a pureza doutrinal, acabamos por cair no sectarismo, como já nos advertiu nosso pai espiritual Wesley em seu sermão sobre a intolerância.

O que importa, entretanto, é seguirmos adiante, sem retrocedermos. Seguir adiante e não lançarmos fora as significativas experiências de crescimento – na fé, na esperança, no amor – que nos proporciona o nosso contato com cristãos e cristãs de outros grupos e de organismos intereclesiásticos. Mas também significa não lançarmos fora nossas convicções teológicas, pois o compromisso ecumênico somente pode ser levado à frente se por um lado, tivermos convicções fortemente alicerçadas em nossa herança wesleyana, e, por outro, estivermos plenamente conscientes dos problemas, das dificuldades e dos limites que o movimento ecumênico enfrenta na atualidade. O presente estado do ecumenismo não admite nem romantismos, nem leviandades e, muito menos, irresponsabilidades, quer doutrinais, quer práticas.

Acima de tudo, entendemos que o caminhar ecumênico deve aprofundar as oportunidades que beneficiam, perante o mundo, o testemunho da fé em Cristo e o serviço pleno de amor ao próximo. Prossigamos a caminhar. Podemos admitir que o final desta jornada – uma vez que reconhecemos as limitações de nossa pecadora humanidade – certamente só poderá realizar-se por ocasião da plena e vitoriosa manifestação da Graça de Deus, nos últimos tempos, quando as Igrejas deixarão de existir, pois elas são históricas e temporais. Deus nos enxugará dos olhos todas as lágrimas. Existirá o Reino de Deus em sua plenitude ecumênica, regido pela única e eterna "lei" do amor. Por isso, entendemos que o nosso compromisso ecumênico de buscar tornar visível a unidade que nos está dada em Jesus Cristo, e somente nele, significa, antes de tudo, companheirismo na missão, no testemunho e no serviço, e não formar só instituição eclesiástica, uma super-igreja.

A "caminhada ecumênica" possui "marcos". Como pedras simbólicas sempre reafirmando "até aqui o Senhor nos ajudou" (I Samuel 7.12) esses marcos estão ao longo de uma histórica estrada. Para nós metodistas, o marco fundamental se encontra nas Santas Escrituras. Há uma referência que podemos interpretar como o marco de saída: encontra-se na oração sacerdotal de Jesus, que o evangelista João registrou: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade... que todos sejam um .... que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste" (João 17.18-23). Há uma Ecclesia não delimitada pelas tantas Igrejas existentes, ecclesia essa que, na linguagem dos Pais da Igreja, é descrita como igreja una, santa, católica (universal) e apostóllica (Efésios 2.14-22). A participação na caminhada ecumênica segue um rumo diferente do divisionismo que tem permitido tantas igrejas que se inauguram e vivem como que sem compromisso com séculos de herança cristã, assim saltando das páginas bíblicas para o seu espaço hoje. Esse brotar divido entendemos que não oferece, perante o mundo, testemunho em favor da fé que deseja proclamar "um só Senhor, um só Pai, uma só fé, um só batismo".

marcos nos séculos. O metodismo, afirmado a centralidade das Escrituras Sagradas, afirma a importância da tradição apostólilca e aceita completa e totalmente as doutrinas fundamentais da Fé Cristã. Tais Credos são uma rica herança que recebemos.

Há o nosso específico marco metodista. Sem abandonar séculos de Igreja na fé cristã, nutrindo-nos da seiva da Reforma protestante, acolhendo expressões de fé da Igreja Anglicana, e renovados pela espiritualidade da experiência pietista, foi assim que nos tornamos Igreja Metodista. Iniciar essa denominação, entretanto, não era o projeto desejado. Foram circunstâncias que assim impeliram. A centralidade dos objetivos do movimento metodista em seu início (objetivos também nossos hoje, em novo contexto) está sintetizada na afirmação "Não criar uma nova seita, mas reformar a nação, especialmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre toda a terra". Não criar uma nova seita, não se isolar, não supor que somos os exclusivos portadores de uma verdade religiosa. No conjunto desses objetivos espelha-se um desejo de caminhada ecumênica, embora o vocábulo ecumênico não estivesse em uso naquela época. Aliás, de uso corrente estava a palavra "católico", no sentido de "universal". Neste contexto, repetimos John Wesley que afirmou, referindo-se aos metodistas: "Nós somos um novo fenômeno na terra; um corpo de pessoas que, não sendo de nenhuma seita ou partido, são amigas de todos os partidos e se esforçam em incentivar todos na religião do coração, no conhecimento e no amor de Deus e do ser humano" (Sermão 121, Profetas e Sacerdotes, § 18). Por isso, desestimulando quaisquer intentos separatistas, Wesley apelava com veemência: Não joguem fora a glória peculiar que Deus tem colocado sobre vocês, e frustrem o desígnio da Providência, o verdadeiro fim para o qual Deus os levantou [Sermão 121]. Por isso, entendemos que o metodismo brasileiro, seguindo a advertência wesleyana, de forma alguma confunde a aceitação das doutrinas históricas do cristianismo com atitudes intelectualistas e racionalistas de uma religião morta, nem com latitudinarismos doutrinários irresponsáveis, nem com fundamentalismo e literalismos doutrinários sectários.

Permaneçamos hoje ouvindo a enfática voz de nosso pai espiritual: "Não jogue fora...". O espírito ecumênico, a vontade de estar em "caminhada ecumênica" é uma das essências do modo de ser Igreja aceito, confessado e praticado pelo povo chamado metodista, em todo mundo, do qual o Conselho Mundial Metodista é o continuador do compromisso metodista com a unidade da Igreja desde o século dezenove. Essa essência de testemunho, nascido especialmente entre os missionários trabalhando na Ásia e África, tem possibilitado que muitas pessoas, membros da Igreja Metodista, em vários países, tenham se tornado líderes de movimentos ecumêmicos, co-fundadoras de organismos de integração de serviços desenvolvidos por Igrejas de várias denominações.

Podemos apontar vários marcos contemporâneos que os/as metodistas, do Brasil e de outros países, ajudaram a sinalizar na caminhada ecumênica da atualidade.

O 10º Concílio Geral (1970-1971) aprovou a constituição do Conselho de Igrejas Evangélicas da América Latina – CIEMAL – e a participação de nossa Igreja Metodista no Conselho. Na constituição, entre os fins apresentados, está o de "incentivar e promover relações de colaboração com o Metodismo Mundial e com o Movimento Ecumênico em todos os níveis e expressões" (Art. 2º, inciso 5). O CIEMAL está constituído "sob a autoridade das Sagradas Escrituras e aceita os credos ecumênicos com símbolos históricos da confissão da fé cristã" (Art. 15º).

Nas pastoral "Servos, servas, sábios, sábias, santos, santas, solidários, solidárias" (que, na fase pré-concílio, entregamos como documento em razão de seu conteúdo eclesiológico) afirmamos: "Alegramo-nos, como metodistas, em compartilhar do movimento de unidade do corpo de Cristo, estando filiados ao Conselho Mundial de igrejas – CMI (p. 21). A Igreja Metodista (do Brasil) está no rol de fundadoras do CMI. Em maio de 1960, o Expositor Cristão apontava: "É [...] extremamente enganoso descrever o movimento ecumênico ou o Conselho como a ‘Igreja Mundial’, pois esta palavra sugere um tipo de integração e unidade que não existe. O Conselho é simplesmente um servo das Igrejas, que as ajuda a entrar em contacto real umas com as outras e a realizar aquilo que desejam fazer em conjunto". O mesmo se pode dizer de nossa inserção no trabalho do Conselho Mundial Metodistas – CMM, cujo compromisso ecumênico é assumido por toda a família herdeira do avivamento wesleyano no século dezoito.

Afirmamos, ainda, na pastoral "Servos e Servas": estamos "filiados ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC, tendo o desejo primordial de testemunhar do amor de Deus revelado na pessoa a vida de Jesus Cristo, seu unigênito Filho, "para que o mundo creia" (p. 21). Com essa nossa participação temos a possibilidade de, em momentos da vida nacional, proclamar a opinião profética de cristãos e cristãs, a partir dessa fé, comum. E, em oportunidades adequadas, desenvolver ações positivas, sinalizando a nossa vontade de criar dias melhores para o povo. Da mesma forma, estamos afiliados à maior organismo de igrejas da América Latina, o Conselho Latino-Americano de Igrejas – CLAI, desde sua fundação.

A Igreja Metodista, em partes do mundo, tem demonstrado, de várias formas, a sua característica positivamente diferenciada em termos de seu compromisso com a unidade da Igreja. A presença missionária da Igreja Metodista nos diversos organismos sinaliza o desejo do povo metodista de unir forças para que tenhamos uma Igreja profética, pastoral e missionária. Temos alegria em compartilhar do movimento de unidade do Corpo de Cristo ao estarmos presentes nos diversos órgãos, ministérios e instituições comprometidas com a unidade do evangelho em termos de missão e evangelismo, testemunho e serviço, tendo com maior objetivo testemunhar ao mundo o amor de Deus revelado em Jesus Cristo. É de se ressaltar o fato de que as maiores organizações ecumênicas, com exceção da Europa, têm hoje à sua frente líderes metodistas, pois os secretários gerais do Conselho Mundial de Igrejas, e dos Conselhos de Igrejas da América Latina, América do Norte, Ásia e África são todos metodistas. Portanto, envolvidos nesse espírito de participação na videira e Corpo de Cristo, temos sido enriquecidos pelas experiências das diversidades ministeriais presentes em outras expressões eclesiais do Povo de Deus que manifestam a diversidade que gozamos em Jesus Cristo. A inclusão na caminhada ecumênica conduz a vida do crente a uma prática cotidiana de amor ao próximo (João 13.34-35; Deuteronômio 6.5), como resposta à graça de Deus revelada em Jesus Cristo.

Todavia, de modo especial, reconhecemos que nosso relacionamento com a Igreja Católica Romana tem se constituído numa questão controvertida para diversos setores de nossa Igreja, por diferentes razões e motivos. Nosso relacionamento institucional com a Igreja Cátolica, desde os anos setenta do século passado, a exemplo do que ocorre com outras Igrejas Cristãs, fundamenta-se na unidade e comunhão com o Corpo de Cristo, mais ampla do que qualquer expressão institucional cristã. Entretanto, reconhecemos que nossa associação a organismos ecumênicos, aos quais a Igreja de Roma também se associa, tem causado questionamentos por parte de um número considerável de metodistas, particularmente entre membros de nosso corpo pastoral. Para estes setores, diante do ensino e práticas católico-romanas (como o papado, e a veneração aos santos e à Virgem Maria, consideradas como idolatria), nosso relacionamento com os católicos é entendido como comprometimento de nossos princípios bíblico-teológicos às custas da perda de nossa identidade evangélica e wesleyana e de nosso compromisso com a evangelização do povo brasileiro, atribuindo-se, inclusive, ao ecumenismo a falta de crescimento numérico em algumas de nossas regiões eclesiásticas. Outros consideram que nosso relacionamento com católicos implica em atitudes por vezes eirenistas, românticas ou, até mesmo, ingênuas, que ignoram as contradições, divergências e antagonismos entre evangélicos e católicos ao longo de quase cinco séculos.

Reconhecemos que, em determinadas circunstâncias, mais no passado do que no presente, tem havido uma prática ecumênica, o chamado "ecumenismo festivo", que, com a intenção de superar o período de controvérsias e mesmo de intolerância religiosa contra os evangélicos por parte de católicos, acaba por não reconhecer pendências teológicas de fé e prática que ainda persistem entre nós, mesmo com todo o diálogo ecumênico, nos últimos quarenta anos, entre esses dois ramos de cristandade.

Reconhecemos, entretanto, que nossa convivência nos círculos ecumênicos não é ingênua, nem romântica e nem eirenista, e muito menos "festiva", pois estamos conscientes de que há contenciosos teológicos e práticos bastante sérios entre nós e a Igreja de Roma. Entendemos, outrossim, que grande parte das dificuldades enfrentadas é devida às mútuas barreiras e preconceitos levantados entre nós desde o início da presença evangélica no Brasil. Como bispos e bispa metodistas – buscando fundamentar nossa unidade em Cristo, que é maior do que o Templo e tudo o mais, pois ele é o fundamento de nossa fé e prática, reconhecemos que nosso relacionamento com a Igreja Católica não nega nossas discordâncias, diferenças práticas e doutrinárias. Também não consideramos que estamos compromissando nossos valores espirituais ou renegando nossa herança evangélica e wesleyana e, muito menos, enfraquecendo o compromisso com a evangelização do nosso povo. Estamos, sim, comprometidos a falar a verdade em amos, a respeitarmo-nos uns aos outros, a darmos testemunho da comunhão entre os cristãos na palavra, na prática e nas ações missionárias a favor do Evangelho do Reino, a serviço do povo em nome do Senhor Jesus.

Em continentes onde não há predominância da fé cristã vemos uma comunhão exemplificada no amor, no respeito mútuo, na comunhão e na relevância de Cristo, acima de tudo. Isso está ocorrendo na África, na Ásia, em especial, na Coréia, onde o símbolo da cruz é um marco para o testemunho dos cristãos e o dinâmico crescimento da Igreja. Entre nós brasileiros, a história do nosso país, sua cultura e a presença hegemônica do catolicismo por mais de três séculos deixaram marcas que dificultam a compreensão e o relacionamento ecumênicos. Em algumas partes do Brasil, isso é visivelmente presente, não só para o evangélicos, mas também para muitos católicos. Em certas regiões do nosso país, não há qualquer disposição ecumênica da parte da hierarquia católica, que tende a tratar os metodistas da mesma forma sectária e discriminatória como trata mórmons e testemunhas de Jeová. Mesmo assim, afirmamos que o testemunho da comunhão cristã está acima desses fatos, que, mesmo que reconhecidos e levados em conta, não devem impedir o reconhecimento da presença de Cristo nessa comunidade da fé.

Reconhecemos que, como pessoas que se chamam metodistas, necessitamos amadurecer, aprofundar e aprender, com humildade, verdade, amor e comunhão, o nosso relacionamento com a Igreja Católica. Fundamentados em nosso compreensão das Escrituras e em nossa herança wesleyana, afirmamos que não é a instituição, em seu Magistério, seus bispos, ou seus líderes que refletem a dimensão da unidade. Mas sim a comunidade da fé, em sua vivência diária junto ao povo e suas comunidades. O imperativo ecumênico está acima das motivações e predominâncias institucionais.

De outra forma também entendemos que, hoje, no contexto das Igrejas Evangélicas em geral, mas de maneira especial, nas chamadas neopentecostais, há tendências contraditórias que ferem diretamente os princípios evangélicos de nossa fé e prática. Esses valores e atitudes têm se tornado numa nova forma de idolatria, e da mesma forma, chocante como as mais tradicionais. Quem sabe estão aqui as nossas maiores dificuldades de expressão da fé cristã: um cristianismo pagão.

Reconhecemos dificuldades, na caminhada ecumênica, diante de situações que nos conclamam a comparecer a atos públicos, de caráter sócio-político, nos quais estarão pessoas de diferentes credos religiosos e não mais exclusivamente as de tradição cristã. Ocorre que os meios de comunicação acabam rotulando tais ocasiões como celebração ecumênica e isso dificulta a clareza do Que se está a fazer. Por certo, em tais situações, se ocorrer que um de nós lá esteja, não significa que estamos nos afinando com os conteúdos de credos de outros grupos. Lá estaríamos, sim, para dizer que temos preocupações sociais, que, como cidadãos e cidadãs aqui se trata de cidadania!], deste ou daquele credo, estamos em favor da paz, da justiça, da não violência, da solidariedade, do socorro em aflições, de dias melhores para o nosso sofrido povo. Contudo, a fina compreensão disso não é fácil. Assim, ainda não temos um definitivo marco referencial, em nossa caminhada, que nos proporcione balizas suficientes para tais ocasiões. A participação nesses atos, atualmente, ainda requer um aprendizado ao que nós, metodistas, reconhecemos como indispensável e essencial prática de caminhada ecumênica. Entretanto, uma posição, que estamos conscientes que o metodismo brasileiro não está disposto a referendar, é a do macro-ecumenismo. Sem dúvida, nossa vocação nos coloca numa posição de respeito, diálogo e tolerância e amor a todos os grupos que pensam diferente de nós, mas não nos obriga a sempre comparecer a atos públicos e outras atividades que possam levar a entendimentos distorcidos.

Não obstante, fique bem claro que permanecemos buscando apoiar todas as iniciativas que são portadoras do compromisso com a dignidade da pessoa humana, bem como uma sociedade inclusiva e comprometida com os valores da cidadania em termos de justiça, paz e solidariedade. Nossas mãos estão abertas para apoiar, à luz dos ditames do Reino de Deus. O povo brasileiro está exausto, vive grandes dificuldades, sofre violências de várias formas, tem carências afetivas nos laços familiares e comunitários. Esse povo, que somos nós também, merece – da família de Deus, como testemunhas de Jesus Cristo e no poder do Espírito Santo – a sinalização de esperanças, paz, alegria na perspectiva da presença do Reino de Deus no cotidiano da vida.
Estando na caminhada ecumênica, reforçamos a nossa identidade. Quando nos referimos à unidade da Igreja, isso não significa submissão de uma Igreja em relação a outra, nem o abrir mão de uma convicção de doutrina prática de culto, serviço, evangelização, ações missionárias em benefício do povo. Participar na caminhada ecumênica requer que nos aperfeiçoemos no conhecimento e vivência de nossa identidade.

Tenhamos distante de nós as muitas orientações que já aprovamos em 1982 e estão como marcos de caminhada ecumênica no "Plano para a vida e a Missão da Igreja". Relembramos a "Área de promoção da unidade cristã" (Cânones 2002, p.107-109). Um dos objetivos é: "cultivar a identidade histórica do metodismo como contribuição para a unidade do Corpo de Cristo". E outro: "dar continuidade à tradição metodista, reconhecendo que ela oferece uma base própria e condizente para o diálogo entre posições".

Uma das bases de nossa identidade declara a nossa "consciência de que somos parte da igreja de Jesus Cristo no mundo. Temos a consciência da unidade com todo o povo cristão, estendendo a mão a todas as pessoas cujo coração é como o nosso, procurando preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz, a fim de sinalizar, de forma visível ao mundo, a unidade o Corpo de Cristo" (As Marcas Básicas da Identidade Metodista, p. 19).

Outrossim, ouvindo o reclamo de vários setores da Igreja, cremos ser tarefa inadiável para o próximo exercício eclesiástico o aprofundamento, sob a orientação do Colégio Episcopal, de nosso diálogo interno sobre a participação metodista no movimento ecumênico, particularmente junto ao corpo pastoral e às igrejas e congregações locais, com o objetivo de explicitar nossos critérios bíblicos e teológicos que deverão fundamentar nosso entendimento e práticas na busca da unidade cristã diante das oportunidades, possibilidades, dificuldades e limites de nossas relações com outras igrejas e organismos interclesiásticos.

Por isso, nós, bispos e bispa da Igreja, consideramos de grande relevância que o 18º Concilio Geral da Igreja Metodista reafirme o compromisso da Igreja com a unidade de Igreja estendendo nossa destra de comunhão de todas as Igrejas e Organismos que mantêm como sua base de fé a confissão de Jesus Cristo como Deus, Senhor e Salvador, segundo as Escrituras, para o gloria do Deus Trino, nos dispondo a somar com esses irmãos e irmãs no testemunho do Evangelho e no serviço ao próximo em nome de Cristo.

Que o Espirito Santo nos ensine no contexto da promessa deixada no Santo Evangelho: "Quando vier, porém, o espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não faltará pôr si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciar a as coisas que hão de vir" (João 16.13).
Temos um traço marcante na essência da eclesiologia metodista: estamos e devemos sempre estar em caminhada na busca da santidade e coração e vida, na plenitude do amor a Deus e ao próximo, a fim de que todos sejam um. De modo algum podemos retroceder e arrancar, do caminho ecumênico já percorrido, os marcos que já edificamos. Recordemos o fundamental conselho de John Wesley:

"Não joguem fora a gloria peculiar que Deus tem colocado sobre vocês, e frustrem o desígnio da Providencia, o verdadeiro fim para o qual Deus levantou".

No amor de Cristo, sua irmã e seus irmãos em Cristo, bispa e bispos da Igreja Metodista,

Bispo João Alves de Oliveira Filho
Bispo João Carlos Lopes
Bispo Josué Adam Lazier
Bispo Adolfo Evaristo de Souza
Bispo Adriel de Souza Maia
Bispo Luiz Virgílio Batista da Rosa
Bispa Marisa de Freitas Ferreira Coutinho
Bispo Paulo Tarso de Oliveira Lockmann

Contra o fato consumado

Por: Lair Gomes de Oliveira

Volto a ocupar o espaço deste “blog” para compartilhar com os amigos e amigas. Motivou-me a tornar a escrever, dois textos, um deles presente aqui mesmo no “blog”. Refiro-me à contribuição do Prof. Dr. Reinhard Brose em “Uma palavra a partir da Alemanha” e à entrevista com o recém eleito Bispo da Igreja Metodista na 5ª RE, Adonias Pereira do Lago, publicada no site oficial da Igreja Metodista recentemente.

A contribuição do Prof. Brose deixou-me ainda mais preocupado a respeito da seriedade da decisão do 18º Concílio a respeito do ecumenismo e suas conseqüências jurídico-institucionais que ponderei em texto anterior.

Ora, é sabido que um dos papéis mais importantes de todo texto normativo legal é oferecer segurança para as relações, sejam elas comerciais, institucionais ou no caso da normativa canônica a segurança doutrinária.

Quando o Prof Brose pergunta sobre como ficará a vinculação da Igreja Metodista brasileira à família Metodista Mundial, trata-se de colocar a mesma questão que apresentamos no texto anterior sobre a nossa pertença a tradição do metodismo universal. Qualquer decisão conciliar que decida à revelia daquelas proposições, estará colocando em dúvida nossos compromissos
institucionais e doutrinários nacionais e nossa pertença à tradição wesleyana que extrapola o ambiente de nossa autonomia.

A seriedade no tratamento deste tema nos coloca, portanto, diante de um problema que tem a ver com a segurança de nossa relação institucional interna e externa. Eis a razão por que insisto em pensar, que a decisão do 18º Concílio sobre o ecumenismo, fere a norma Cânonica. A normativa dos Cânones existe para dar segurança em nossa pertença a uma comunidade. Ela institui nossa pertença. Por isso a norma fala claramente:

Art. 1º da Parte Geral: “Em nenhuma circunstância, qualquer igreja local, órgãos ou instituições podem planejar, decidir ou executar, ou ainda, posicionar-se contra elementos indicados neste artigo, porque deles decorre a característica metodista.”

Referindo-se aos elementos básicos da Igreja Metodista, que são:

“1. Doutrinas do Metodismo
2. Costumes do Metodismo
3. Credo Social
4. Normas do Ritual
5. Plano para a Vida e a Missão
6. Diretrizes para a Educação
7. Plano Diretor Missionário”.

E daí acreditar que somente por dois terços dos votos qualquer destes princípios poderiam ser mudados.

Além disto existe uma outra preocupação grave. A entrevista do Bispo Adonias pretendeu não apenas criar um fato político, defendendo a retirada imediata dos representantes metodistas de seus cargos em organismos ecumênicos, mas também criar o FATO CONSUMADO. Certamente, depois de escolhidos os substitutos para estes representantes, jamais seria possível serem os
substituidos restituidos em seus cargos. Com toda certeza, existe uma maldade velada e que eu diria tratar-se de grande erro político e jurídico na defesa de antercipar-se qualquer movimento para dar cumprimento imediato para tal decisão. Mesmo porque, o Concílio não encerrou seus trabalhos.

Seria apropriado, diante da gravidade em que a decisão Conciliar colocou a Igreja Metodista, que a Comissão de Constituição e Justiça se antecipasse e de forma cautelar oferecesse seu parecer.

Continuo acreditando que tal decisão não poderia receber a aprovação sem os dois terços do quórum conciliar e sem a mesma votação proveniente dos concílios regionais. É o que depreendo da intenção da norma canônica a bem da referida segurança das relações jurídicas que se fundam nos Cânones e que identificam a Igreja Metodista. As perguntas do Prof. Brose e a adesão do metodismo mundial à Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação firmada por católicos romanos e luteranos em 1999 indicam que se quisermos trilhar caminho diferente, haveremos de realizá-lo com segurança também canônica, para que os membros da Igreja
Metodista brasileira compreendam que tal disposição nos coloca distantes da família metodista mundial.

Lair Gomes de Oliveira
lgolivei@unimep.br

Prática Ecumênica: Identidade do Metodismo

Por: Cilas Ferraz de Oliveira

"Se teu coração é igual ao meu, dá-me a mão."

Os cenários trágicos desenvolvidos durante os últimos anos em áreas diferentes do mundo, com milhões das pessoas que sofrem todos os tipos de violência e destruição, tiveram a religião como um dos seus principais elementos, além dos elementos políticos e econômicos. A guerra dos EUA contra o Afeganistão e depois o Iraque, bem como a guerra de Israel contra o Libano têm seu componente religioso. Os fundamentalistas de ambos os lados interpretam as guerras como uma luta do bem contra o mal.

Conflitos religiosos não são novidades na história da humanidade. Segundo John Wesley "não há animosidades mais profundas e irreconciliáveis como as que procedem da discordância da religião." O cristianismo, marcado fortemente pela ênfase do avanço missionário, no encontro com outras culturas, foi notadamente violento e arrogante servindo à dominação política e cultural. John Wesley tomando conhecimento do livro A História da Igreja da Escócia, de John Knox, ficou impressionado com o espírito beligerante da obra em que o autor exaltava o espírito guerreiro e belicoso empreendido pela igreja em sua tarefa missionária. "A violência não pode ser justificada na propagação do evangelho, a obra de Deus não necessita do trabalho do demônio," afirmou ele.

R. Scott Appleby escreveu em 1996 um texto intitulado: Engenheiros do Plano de Deus: o que os fundamentalistas de todas as religiões têm em comum? (In: Der Überblick: Zeitschrift für ökumenische Begegnung und Zusammenarbeit, 4/96, Hamburg, 1996, p. 4-7) onde afirma que o fundamentalismo pode ser considerado uma forma moderna de religiosidade e que a maioria dos fundamentalistas pertencem às classes letradas da sociedade. Rubem Alves apontou a raiz da intolerância no mundo protestante brasileiro no seu livro: "Protestantismo da Reta Doutrina".

O metodismo tem uma tradição de respeito à diferença e à pluralidade. A Igreja Metodista no Brasil participou de todas as iniciativas de diálogo ecumênico, desde a criação da Confederação Evangélica, do Conselho Mundial de Igrejas até o CONIC.

No documento Plano para a Vida e Missão da Igreja encontramos a seguinte afirmativa: "De forma alguma o Metodismo confunde a aceitação das doutrinas históricas do cristianismo com a defesa intransigente, fanática e desamorosa da ortodoxia doutrinária." E cita John Wesley: "No essencial, unidade; no não essencial: liberdade; em tudo, caridade". Afirma também que o Metodismo é "parte da Igreja Universal de Jesus Cristo" e que trabalhar na missão "é somar esforços com outras pessoas e grupos que também trabalham na promoção da vida."

Num momento em que a competição no mercado inclusive religioso, é estimulada ao extremo, a necessidade de se criar e fortalecer a identidade favorece a criação de inimigos, verdadeiros e fictícios. Segundo Samuel Huntigton, "para os povos buscando identidade e reinventando a etnicidade, inimigos são essenciais."

Talvez isso explique o agravamento das pressões na Igreja Metodista e em outras Igrejas contra o ecumenismo. O Colégio Episcopal decidiu que a Igreja Metodista não participaria da Campanha da Fraternidade em 2005 promovida ecumenicamente pelo CONIC, presidido pelo Bispo Adriel, indicado pelo próprio Colégio Episcopal para assumir a presidência daquele Conselho. Presenciamos ainda vários conflitos em algumas igrejas locais devido à participação ecumênica da igreja metodista junto ao catolicismo.

Eu penso que é importante discutir o tema do ecumenismo na história do metodismo como forma de afirmar a prática do ecumenismo como parte da identidade da igreja metodista. A capacidade para sentar-se à mesa e dialogar com outras igrejas é fundamental nesse momento de guerra e competição no mercado. A decisão do Concilio Geral nega toda a história do metodismo no Brasil e no mundo e nada contribui para a construção de uma cultura de paz num mundo competitivo em que as igrejas na busca de identidade são tentadas a construí-la de forma negativa, criando inimigos. A decisão conciliar é apenas um primeiro passo em direção a outros inimigos: maçonaria, divorcio, etc. Os críticos do papa e da igreja católica repetem os erros do catolicismo marcado pelo fundamentalismo religioso e vão escrever o syllabus metodista.

Nosso desafio é fortalecer a identidade metodista positivamente, afirmando os valores de nossa tradição, entre eles, a prática do diálogo ecumênico. Espero que essa discussão contribua para afirmarmos positivamente nossa identidade como metodistas, criando pontes para o diálogo num mundo marcado pela ausência do diálogo, pelo fundamentalismo religioso e político, e conseqüentemente pela violência e a guerra.

Cilas Ferraz de Oliveira
Pastor Metodista - 4ª Região Eclesiástica
Coordenador da Pastoral do IEP/UNIMEP